Os desafios e benefícios da remuneração baseada em valor

remuneração baseada em valor
Primeiro painel do evento teve como tema Inovação e Saúde. Da esquerda para a direita: a futurista Lala Daheinzelin; o diretor de Inovação e Tecnologia da Unimed Paraná, Omar Taha; o professor da Universidade de Stanford Robson Capasso; e o presidente da Associação Europeia de Saúde Baseada em Valor, João Marques Gomes (Foto: Reprodução/Unimed Paraná)

Modelos de remuneração baseada em valor ainda são raros na saúde. “Se o paciente é internado com pneumonia e sai morto ou curado, o hospital recebe a mesma quantidade de dinheiro”, exemplifica o consultor Sergio Ricardo Santos (relembre). Priorizar a geração de valor seria considerar quatro aspectos, citados pelo palestrante: a pertinência, em que os serviços prestados são apropriados nos diferentes contextos assistenciais; o desfecho, com resultados que impactam positivamente a saúde do indivíduo; a eficiência, com o custo condizente com o resultado assistencial produzido; e a experiência, com a visão sistêmica da percepção do paciente na totalidade do atendimento.

Para além da qualidade do cuidado prestado, os benefícios da saúde baseada em valor incluem o estímulo à inovação, a economia de recursos, a redução de desperdícios e a formação de parcerias estratégicas com riscos compartilhados, em que há corresponsabilidade no tratamento. “E tudo isso tem de começar pelos indicadores, que estimulam a entrega de mais qualidade, renovação, redução de custos e incentivos ao novo modelo de remuneração”, complementa Santos.

Saiba mais sobre o tema: Você sabe o que é saúde baseada em valor?

Em consonância com a necessidade de inovação, colaboração e bom uso da tecnologia, o português João Marques Gomes, economista especializado em cuidados com a saúde, falou sobre os benefícios e desafios da mudança para a remuneração baseada em valor, em palestra no primeiro painel do evento.

Presidente da Associação Europeia voltada ao tema, Gomes defende que a saúde baseada em valor é a estratégia que permitirá a superação dos desafios que permeiam o cenário atual da área – inclusive, os financeiros. “Estamos pagando por cuidado em saúde de forma errada”, diz o palestrante. “Há uma variação enorme, e escondida, entre resultados e custos, para o tratamento de pacientes de mesmo perfil e com as mesmas condições médicas.”

Ao estabelecer protocolos e diretrizes clínicas priorizando os desfechos que realmente importam aos pacientes, o modelo de saúde baseada em valor permite integrar um cuidado antes fragmentado, além de melhorar todo o ciclo de atendimento ao paciente e reduzir o desperdício de recursos.

Para Fernando Carbonieri, diretor da healthtech Wellbe, o envolvimento dos clínicos será crucial no avanço dessa discussão. Em sua fala no terceiro painel, o médico pontuou a importância de levar a discussão aos diversos agentes envolvidos, incluindo indústria, pagadores, prestadores de serviço e público. Em sua opinião, a inteligência de dados é uma potencial facilitadora do processo de mudança para uma remuneração baseada em valor:

“Oferecer visibilidadedos dados e resultados para as partes interessadas pode facilitar a reconciliação de pagamentos e permitir que os provedores monitorem e informem suas decisões.”

A coleta de dados no dia a dia também será importante ao estabelecimento de diretrizes e protocolos clínicos, conforme explica Robson Capasso, professor da Universidade de Stanford. O palestrante esteve presente no primeiro e no terceiro painéis, e diz que há uma lacuna entre as ciências biológicas e os cuidados em saúde, dada a subrepresentação de populações diversas em ensaios clínicos.

Além da baixa inclusão de minorias raciais e de pessoas de baixa renda, há grupos em que se torna mais complexa a realização de ensaios clínicos randomizados e controlados, como para mulheres grávidas, idosos frágeis e crianças. Assim, o uso de registros eletrônicos, como os feitos por smartwatches e outros dispositivos inteligentes, permite o acesso a dados mais representativos do mundo real. Apesar de não ter a validade de um estudo controlado randomizado, essa análise já permite algum embasamento. “Não será a evidência de maior qualidade possível, mas será a melhor disponível”, declara Capasso.


ANALYTICS EM PAUTA COM OS AVANÇOS NA TECNOLOGIA, NOVAS POSSIBILIDADES SE ABREM AO SETOR DE SAÚDE

3 - 4. Analytics em pauta
Segundo painel do 9º E-Saúde contou com, da esquerda para a direita, Marcelo Dallagassa, Unimed Paraná; Suzana Morais, da Deloitte; Caetano Silva, da CS Technologies; Rafaela Raganham, da Unimed Paraná; e Mauricio Cerri, da Unimed do Brasil (Foto: Reprodução/Unimed Paraná)

O segundo painel, do 9º E-saúde, contou com a participação de especialistas em análise de dados voltada à gestão em saúde, que estão contribuindo para a transformação na área. Confira os destaques:

Caetano Silva, da CS Technologies, falou sobre governança de dados, ativos de empresas que podem e devem ser administrados, resultando em redução de custos e aumento de ganhos. Adotar uma abordagem data-driven, do inglês guiada por dados, é benéfico para atingir os objetivos estratégicos da empresa.

Suzana Morais, da Deloitte, discutiu as tendências de aplicações de inteligência artificial na análise de dados. A ausência de integração entre sistemas, a descentralização de informações, a falta de controle da gestão interna e o excesso de documentação em papel se apresentam como desafios aos negócios, impedindo análises mais aprofundadas e fluxos de trabalho mais inteligentes. A organização de tais informações permite não só o avanço nas análises, mas também da geração de novas informações pelas inteligências artificiais generativas, por meio da recombinação ou modificação de dados existentes.

Mauricio Cerri, da Unimed do Brasil, trouxe a importância da interconexão do Sistema Unimed, cujo ambiente sistêmico é simplificado por inúmeras iniciativas, como o Programa Sinergia. Esse projeto permite uma visão integrada de soluções de tecnologia, com dados que contribuem para a análise estratégica do Sistema Unimed. Além disso, as forças do Intercâmbio e de negociações nacionais viabilizam produtos e serviços de alta qualidade, com redução de custos e fortalecimento dos princípios de integração e cooperação.

Rafaela Raganham, da Unimed Paraná, apresentou a jornada da cooperativa em trilhar o caminho da governança de dados. A criação de papéis e responsabilidades, a avaliação do estado atual de dados, a conscientização inicial, o desenvolvimento de políticas e padrões e a maturidade de governança de dados foram citadas como as principais etapas nesse processo. Rafaela relata que a iniciativa contribuiu com a melhoria da qualidade dos dados, com a conformidade regulatória, com a tomada de decisões informadas e com a promoção de agilidade e flexibilidade. No futuro, ainda se espera maior protagonismo da inteligência artificial e automatização no processo de governança, além da interoperabilidade de dados e da segurança cibernética.


 

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