Jeanine Rolim de Moura Meier explica como é possível contribuir positivamente para o desenvolvimento dos filhos, sejam crianças ou adolescentes
Lidar com os filhos muitas vezes não é nada fácil. A cada fase da vida, eles demandam cuidados diferentes. E não são só os pais os responsáveis por esse desenvolvimento. Avós, tios, professores, todos que estão envolvidos com crianças e adolescentes podem contribuir para a formação deles. Mas a pergunta é: como? Como estimular a autonomia e a autorresponsabilidade desde a infância? Como lidar com os desafios da adolescência? Como fazer com a exposição dos pequenos às telas?
Segundo psicóloga e pedagoga Jeanine Rolim de Moura Meier, crianças de até 5 anos simplesmente não deveriam ser expostas a telas. E crianças de 6 a 10 anos poderiam ser expostas até no máximo duas horas por dia. Isso porque os vídeos não estimulam o raciocínio.
“Os personagens são os mesmos. As músicas também. As crianças entram em looping cerebral e não há desenvolvimento”, afirma a especialista.
Por outro lado, demonizar as telas também não é a solução. “Seria uma tolice fazer isso porque não dá para criar os filhos numa bolha”.
Como solução, Jeanine orienta que os pais ou responsáveis imponham limites, supervisionem o que está sendo visto e, ao tirarem a criança da tela, deem algo mais saudável em troca, como uma brincadeira, por exemplo.
Como estimular a autorresponsabilidade?
Para estimular a autorresponsabilidade desde cedo, Jeanine recorre à perspectiva do psicólogo norte-americano Jeffrey Young, que aponta as cinco necessidades básicas emocionais da criança:
Qualidade e segurança do vínculo: a criança precisa saber que se ela tiver alguma necessidade, alguém vai atender.
Autonomia: é preciso desenvolver a autonomia desde a infância e tomar cuidado com a superproteção, que é bastante prejudicial.
Liberdade de expressão: as crianças precisam se sentir à vontade para dizer o que pensam e sentem, sem se tornarem os “reizinhos” da casa.
Limites realistas: é preciso dar limites sem tolher nem torturar, ensinar a criança até onde é o espaço dela.
Espontaneidade e lazer: a criança precisa se divertir, brincar, experimentar.
Atendendo esses quesitos, os pais estarão contribuindo para a que os pequenos construam a autorresponsabilidade.
A adolescência chegou! E agora?
A transição entre a infância e a adolescência é uma fase delicada que requer paciência e diálogo. Não que isso tornará a convivência fácil, mas já é um bom começo.
“É saudável que haja conflito entre pais e adolescentes. Eles estão se individualizando, experimentando onde se encaixam. Estão nessa testagem de saber quem são e o quanto vão mostrar da figura que são. É desafiador, desorganizador”, diz Jeanine.
Para lidar com essas dificuldades, a psicóloga orienta os pais a falarem sobre o assunto, a contarem aos filhos que também tiveram conflitos nessa idade e a se colocarem numa postura de não julgamento.
O cuidado com a saúde mental dos filhos
Segundo Jeanine, é preciso ficar atento às mudanças no comportamento dos filhos. Alterações no sono, na alimentação e agressividade são alguns sinais de alerta. Uma variação brusca nas notas, inclusive para mais, também pode ser um indicativo de que as coisas não vão bem.
“Notas muito altas, de repente, podem indicar falta de socialização, cobrança excessiva. Pode ser um sinal falso também. Mas se for algo mais sério, você está ali”.
Leia também: Por que é tão difícil e importante brincar com nossos filhos?
Em relação às emoções, a psicóloga orienta que coisas que para os adultos são pequenas, para as crianças e adolescentes podem ser a maior frustração da vida até então. E isso precisa ser legitimado. Por exemplo, no caso de um adolescente que ficou triste porque não pôde ir a uma festa, o ideal seria acolhê-lo, conversar sobre os sentimentos, chorar junto se sentir vontade e validar o que ele está sentindo, dizendo algo como “se fosse comigo, eu estaria triste também”. Muitos pais, no entanto, não agem dessa forma.
“O que a gente faz normalmente é dizer: ‘não fique assim, logo tem outra festa’. A intenção é ótima, é pôr a pessoa pra cima. Mas com isso eu invalido as emoções desse filho. Está triste? Deixa chorar. É preciso deixar os filhos vivenciarem a tristeza da melhor forma possível, acolhendo as emoções e não fugindo delas – nem as substituindo por outras atividades”, orienta.
O que evitar?
Quem nunca deu o celular para o filho ficar quieto ou prometeu algo em troca do cumprimento de alguma tarefa que atire a primeira pedra. As famosas recompensas propostas pelos pais aos filhos, segundo Jeanine, devem ser usadas com moderação. “Nem muito, nem sempre. Guarde a estratégia para quando for extremamente necessário”.
Outra coisa a ser evitada são as discussões perto das crianças. “A criança não tem aparato emocional para a compreensão do todo. Então, cuidado com o que vai deixá-la ouvir, principalmente sobre finanças, política e assuntos de cunho sexual”.
Diferenciação entre filhos e palmadas
Ainda praticada por muitos pais na hora da raiva, as palmadas são proibidas por lei no Brasil.
“A educação empática trabalha com a ideia de que eu vou gerar pouco aprendizado quando eu estiver surrando uma criança. O que fazer então se não pode bater? Deixa a emoção acalmar, a poeira baixar e depois conversa. O cérebro se fecha para a aprendizagem na hora da ameaça”, explica Jeanine.
Leia também: Como ensinar educação financeira para as crianças
Também ao contrário do que muitos pais pensam, o tratamento dispensado a cada filho pode ser diferente. A orientação da psicóloga é justamente não trabalhar com igualdade, mas sim com equidade. “Dar a cada um o que precisa”.
Calma, vai dar certo!
Depois de tantas dicas, Jeanine acalma os pais e responsáveis pela difícil tarefa de bem educar as crianças. “Seja gentil com você quando errar. Se perdoe. Lembre-se da criança que você foi. Lembre-se de como foi confuso. A principal refeição que você pode dar para o seu filho é o amor”.