Crianças e adolescentes estão cada vez mais parados e o sedentarismo entre jovens já possui consequências
Se você cresceu até o final dos anos 1990, provavelmente você foi uma criança que brincou muito na rua. Essa cena, porém, é rara hoje em dia. Crianças e adolescentes estão brincando pouco e também se exercitando pouco, justamente na fase em que o ser humano tem mais energia. A brincadeira ao ar livre não migrou para academias ou clubes de esporte. Se antes o futebol, o vôlei, os passeios de bicicleta deixavam os jovens saudáveis, agora o sedentarismo, somado ao uso excessivo de tecnologia, preocupa médicos e pais.
Uma pesquisa interna do Hospital do Servidor Público (HSPE) em São Paulo, conduzida pela médica do esporte Silvana Vertematti, mostrou um aumento de adolescentes inativos. Dos pacientes atendidos no local, entre 12 e 18 anos, 86% é considerado sedentário. Além disso, sete a cada nove assistidos apresentam problemas decorrentes da falta de atividade física, como perda da massa muscular, da força e da habilidade para a realização de atividades cotidianas.
O cardiologista e pai de dois adolescentes, Clayton de Souza da Silva, identifica uma combinação de fatores que levam a esses problemas, como o uso excessivo de tecnologia; o aumento da violência, que deixa as crianças e jovens mais confinados; além da falta de espaços públicos para recebê-los: “O sedentarismo parece ir aumentando com a idade. As crianças mais novas tendem a ser mais ativas que os adolescentes, pois eles passam mais tempo confinados em ambientes fechados. Os pais estão com medo de deixarem os filhos irem às ruas por estarem violentas e há poucos espaços públicos preparados para recebê-los. E isso tem consequências sérias para a saúde”, questiona.
Em 2019, um estudo da OMS (Organização Mundial da Saúde) já tinha alertado para o que pode estar se tornando uma epidemia. De acordo com a pesquisa, quatro em cada cinco adolescentes no mundo são sedentários. No Brasil, os números são piores: 84% dos jovens entre 11 e 17 anos não praticam nem uma hora diária de atividade física (tempo ideal, segundo a OMS). O estudo, que envolveu 146 países, mostrou que as meninas são ainda mais impactadas. Enquanto 78% dos meninos são sedentários, as meninas representam 85%.
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Como resultado, a saúde física e a mental são impactadas. “As crianças e adolescentes que não praticam atividade física têm mais probabilidade de apresentar problemas como obesidade, perda de massa óssea, problemas posturais, questões cardiocirculatórias, transtornos de ansiedade, além dos infartos e AVC (Acidente Vascular Cerebral) na vida adulta”, explica o cardiologista.
A cena comum das décadas anteriores, de crianças brincando na rua, foi substituída por outra, agora com os pequenos segurando celulares. Mesmo que o sedentarismo envolva outras causas, o uso da tecnologia para muito além do recomendado pelos especialistas é preocupante. Segundo as recomendações do Grupo de Trabalho Saúde na Era Digital da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo para adolescentes de 11 a 18 anos ficarem nas telas é de duas a três horas por dia.
Clayton Silva dá uma dica que usa com os filhos para uma vida com menos tela e sedentarismo. “No fim de semana, levo para fazer atividade comigo. Os pais também precisam incentivar e participar. Os adultos que praticam atividade física inspiram os filhos a praticarem também”, recomenda.
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