Elaboradas em tempo recorde, as vacinas de imunização contra a Covid-19 representam um respiro após o ano de 2020
Um esforço global para encontrar a cura ou ao menos um antídoto capaz de conter a pandemia da Covid-19 deu início à corrida pela vacina que resultou em 19 formulações, das quais 5 foram liberadas apenas para uso emergencial e outras 3 para uso definitivo. Produzidas em tempo recorde, as vacinas estão sendo aplicadas desde o dia 27 de dezembro de 2020, quando a largada foi dada por 47 países que começaram a imunizar suas populações. O primeiro país a começar a vacinação de fato, ainda que em caráter emergencial, foi a China, no último mês de julho.
Nesse momento, a velocidade (pensando em atender o maior número de pessoas), tem sido prioridade e, entre as nações que se destacaram pela eficiência está a israelense. “Quem está melhor vacinando é Israel, e em um ritmo acelerado, utilizando a vacina da Pfizer. Já vacinaram mais de 30%, considerando apenas os grupos prioritários. A grande questão é você ter uma estrutura de vacinação com um local de aplicação, mas o que tem feito a diferença em particular é ter uma estrutura de acesso às doses. Obviamente Israel tem uma população pequena, que equivale à população do Paraná, porém, em países como os Estados Unidos, o desafio aumenta pelo fato de terem concentrado a vacinação em hospitais, o que dificulta o acesso da população”, analisa o médico epidemiologista e infectologista do Centro de Pesquisa da Unimed Curitiba e do escritório regional do Ministério da Saúde, Moacir Ramos.
A dose é literalmente uma gota de esperança. O grande desafio para o mundo está na obtenção dos suprimentos para desenvolver as vacinas. E outro ponto está na questão logística, até porque no caso das versões da Pfizer e da Moderna, há a necessidade de que sejam armazenadas em baixas temperaturas para conservação e preservação.
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No território nacional, o Instituto Butantã e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão seguindo os protocolos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberar as vacinas, respectivamente, CoronaVac e Oxford, porém ainda há a dificuldade no fornecimento do suprimento porque não há produção e os insumos são encaminhados da China e da Índia. “Foram 6 milhões de doses distribuídas pelo Butantã, por intermédio do Governo Federal, mais 4 milhões estão sendo envasadas, e há a promessa de mais 2 milhões da vacina Oxford, ainda. O que fica instável, por isso o grande desafio é manter a campanha rodando”, observa Ramos.
No Brasil, a Campanha de Imunização contra a Covid-19 foi iniciada no dia 17 de janeiro pelo Ministério da Saúde, e o país conta com uma excelente estrutura para a distribuição, como observa Ramos. “A estrutura no Brasil é muito boa, pois já temos um sistema público tradicional de aplicação de vacinas com um programa de imunização. E isso aliado à organização do Sistema Único de Saúde fez com que tenhamos um sistema de vacinação de referência internacional. Há locais para armazenamento bem como para a aplicação. E já temos uma rotina logística para vacinação”, explica o médico epidemiologista.
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Desde então, o país ocupa a 34ª posição no ranking de vacinação proporcional à população de acordo com o levantamento do projeto “Our World in Data”, ligado à Universidade de Oxford. Considerando números absolutos, o país aparece em 8º lugar. Um apanhado do Consórcio de veículos de imprensa, levantado por meio de dados das secretarias estaduais de Saúde, apontou – até o fechamento desta edição da revista no início de março – que foram mais de 6,77 milhões pessoas que tomaram a primeira dose da vacina e mais de 2 milhões que receberam a segunda, num total de mais de 8,78 milhões de doses aplicadas na população brasileira. Como observa o médico infectologista e diretor de Prevenção e Promoção Saúde da Unimed Curitiba, Jaime Rocha, temos um programa de imunizações que é motivo de muito orgulho para os brasileiros, é comum atender em larga escala, porém nesse momento não é somente isso. “Se comparássemos essa vacinação com as campanhas de imunização do Influenza e já tivéssemos todas as doses preparadas, em aproximadamente um mês, seria possível atender toda a população. Porém, hoje, depende da velocidade que as doses vão chegar, pois, sem definição da entrega, não há como saber”, destaca Rocha.
Vacinas na iniciativa privada
Considerando-se a demanda nacional e a prioridade dos governos, tanto Ramos quanto Rocha concordam que, nesse momento, a vacina deve ser considerada um bem público, e que não haverá liberação de insumos para a iniciativa privada comercializar as doses.
Que ordem de prioridade está sendo seguida?
Confira a ordem de prioridade da campanha de vacinação que o Ministério da Saúde publicou em comunicado sobre o Plano Nacional de Operacionalização da Vacina contra a Covid-19:
• Pessoas com 60 anos ou mais institucionalizadas
• Pessoas com deficiência institucionalizadas
• Povos indígenas vivendo em terras indígenas
• Trabalhadores de saúde
• Pessoas de 80 anos
• Pessoas de 75 a 79 anos
• Povos e comunidades tradicionais ribeirinhas
• Povos e comunidades tradicionais quilombolas
• Pessoas de 70 a 74 anos
• Pessoas de 65 a 69 anos
• Pessoas de 60 a 64 anos
• Indivíduos com comorbidades (doenças que favorecem o agravamento da Covid-19)
• Pessoas com deficiência permanente grave
• Pessoas em situação de rua
• População privada de liberdade
• Funcionários do sistema de privação de liberdade
• Trabalhadores da educação do Ensino Básico
• Trabalhadores da educação do Ensino Superior
• Forças de segurança e salvamento
• Forças Armadas
• Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros
• Trabalhadores de transporte metroviário e ferroviário
• Trabalhadores de transporte aéreo
• Trabalhadores de transporte aquaviário
• Caminhoneiros
• Trabalhadores portuários
• Trabalhadores industriais
Obs.: O Ministério da Saúde recomendou aos gestores de saúde seguirem essa ordem estipulada pelo Plano de Vacinação, de acordo com as orientações do Programa Nacional de Imunizações (PNI). Porém, é importante realizar a pesquisa em cada localidade, pois na lógica tripartite do Sistema Único de Saúde (SUS), estados e municípios têm autonomia para montar seu próprio esquema de vacinação e dar vazão à fila de acordo com as características de sua população, demandas específicas de cada região e doses disponibilizadas.