Estou imunizado, e agora?

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Especialistas reforçam a importância das medidas de segurança e descartam indicação para testes sorológicos após a vacinação

Um dos momentos mais esperados pelo mundo no último ano finalmente chegou: a vacinação contra a Covid-19. Mesmo que ainda a passos lentos e sem uma previsão concreta de quando toda a população será imunizada, o momento reacende a esperança de que a pandemia, cedo ou tarde, chegará ao fim. Porém, até que esse tão esperado fim realmente chegue, os especialistas alertam: não podemos deixar de lado as medidas de segurança adotadas e jogar fora tudo que foi feito até o momento para conter o avanço da doença.

Uso correto das máscaras, distanciamento social, higiene das mãos. Pode parecer repetitivo, mas, por enquanto, essas três atitudes são essenciais para manter a doença sob controle e evitar mais infecções, mesmo após a vacinação. Isso porque, conforme explica o médico epidemiologista Moacir Ramos, as doses da vacina requerem um período até gerarem resposta imunológica e, ainda, há uma porcentagem entre os vacinados que podem continuar transmitindo o vírus. “Entre tomar a primeira dose e ter uma resposta imunológica, levam, aproximadamente, 21 dias. Depois de tomar a segunda dose, a melhor resposta virá em, novamente, cerca de 21 dias”, detalha. “Além disso, a vacina tem proteção de 60% ou 70%, o que significa que os vacinados não terão a doença em sua forma mais grave, mas poderão se contaminar de forma mais leve e, assim, a disseminação pode continuar”.

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Isso, porém, não significa dizer que a vacina é ineficaz ou que não resolve o problema. Pelo contrário: ao ser vacinado, a pessoa garante que não ficará gravemente doente, ou seja, não precisará ser internada – o que reduz sofrimento e a sobrecarga do sistema de saúde. “As medidas de segurança devem permanecer até que tenhamos um volume grande de pessoas vacinadas, pois assim haverá uma proteção comunitária e, consequentemente, a frequência de internações e casos graves cairá”, completa Ramos.

As condutas durante a vacinação

Assim como no decorrer da pandemia, esse momento de vacinação também gera uma série de dúvidas. Afinal, quem já foi contaminado pela Covid-19 deverá ser vacinado? Ramos garante que sim, uma vez que a “imunidade” gerada pela contaminação não é permanente, ou seja, a pessoa pode ser reinfectada. “Várias pessoas perguntam se precisam fazer o teste sorológico antes de tomar a vacina para saber se já estão ‘imunes’. Não há essa orientação, pois os estudos demonstram que quem já teve Covid-19 tende a perder a resposta sorológica com o tempo”, afirma.

Em contrapartida, o médico afirma que se a pessoa teve qualquer sintoma gripal ou recebeu confirmação de contaminação por Covid-19 recentemente, deve aguardar no mínimo 30 dias para tomar a vacina. “Se houve esses sintomas e a pessoa foi chamada para a vacinação, a orientação é reagendar para 30 dias após a completa melhora”, destaca.

E depois de receber a vacina?

Da mesma forma, o médico infectologista afirma que não há a necessidade de fazer nenhum tipo de teste após a vacinação, uma vez que a resposta gerada pelo imunizante pode não ser constatada por um exame sorológico. “A vacina não gera resposta somente de anticorpos, mas também faz o que chamamos de imunidade celular, e não há teste clínico que avalie essa imunidade em específico. Então, pode ser que um teste de anticorpos aponte um resultado negativo e a pessoa esteja protegida”, explica, ao lembrar-se de que em nenhum local do mundo é recomendada a realização de teste sorológico antes ou depois da imunização.

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A posição é defendida também pelo Diretor Regional Sul da Sociedade Brasileira de Imunologia e professor de imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), André Báfica, que destaca a atuação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) nessa situação. “A Anvisa é responsável por regulamentar o monitoramento pós-vacinação das vacinas aprovadas para uso no país. Enquanto isso, cientistas em todo mundo estão analisando dados de imunogenicidade e reações adversas nas populações”, afirma.

André Báfica
André Báfica, diretor da Regional Sul da Sociedade Brasileira de Imunologia e professor de imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

O médico ressalta, ainda, que mesmo em situações em que uma pessoa não tenha resposta imunológica após a vacina, a proteção pode acontecer se todos à sua volta estiverem imunizados. “É importante salientar que vacinas são produtos de ação populacional, ou seja, por exemplo, se 10 pessoas tomam a vacina e apenas uma delas não “ganha” imunidade, não há problema, essa pessoa tem uma alta chance de estar protegida da circulação do vírus”. Para isso, porém, é importante a adesão da população à vacinação, assim como a disponibilização suficiente das doses do imunizante para proteger a todos.

Em contrapartida, se houver uma baixa adesão às vacinas, há o risco de mesmo uma pessoa já imunizada contrair a doença. “Mesmo que você tenha imunidade demonstrada por testes sorológicos que indiquem a presença de anticorpos neutralizantes, se uma porcentagem baixa da população tomar a vacina, isso não excluirá a possibilidade de você se infectar com novas variantes de SARS-Cov-2”, finaliza.

Dessa forma, ambos os médicos reforçam: usar a máscara, higienizar corretamente as mãos e manter o distanciamento social são atitudes imprescindíveis mesmo após a vacinação. Nesse momento, o pensamento deve ser coletivo para que, em breve, a pandemia seja só uma lembrança do passado.

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