Burnout passa a ser reconhecida como doença do trabalho

Bornout trabalho
(Foto: Ilustração/Pixabay)

A Síndrome de Burnout passa a ser reconhecida como doença de trabalho, facilitando diagnóstico e aumentando responsabilidade das empresas

A partir de 1º de janeiro de 2022, a Síndrome de Burnout, caracterizada como síndrome do esgotamento profissional, será considerada uma doença ocupacional específica com código próprio na Classificação Internacional de Doenças, conforme definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A nova classificação facilita o diagnóstico e a compreensão das autoridades em saúde e previdência social sobre a doença e aumenta a responsabilidade das empresas acerca da saúde mental dos seus trabalhadores, uma vez que a síndrome é definida como uma doença mental que tem como causa direta o trabalho.

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Pela definição da OMS, a doença passa a ser descrita como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito” e que se caracteriza por três elementos: “sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho e eficácia profissional reduzida”.

“A doença não é nova. A síndrome já é conhecida há muito tempo, foi descrita em 1985. Hoje, a enquadramos no CID de esgotamento, que já é aceito como doença do trabalho pelo INSS. Mas, a partir de janeiro, poderemos enquadrar o paciente nesta nova CID, que tem relação direta com a atividade laboral que ela desenvolve. A Síndrome de Burnout Já é considerado uma doença do trabalho, já é estudado pela medicina do trabalho, mas, agora, passa a ser uma doença específica, dá acesso ao auxílio acidentário do INSS e é uma situação que depois do retorno ao trabalho gera estabilidade de um ano e, em caso de judicialização, já é prova de que o trabalhador sofreu um processo de sobrecarga, de pressão, na sua rotina de trabalho”, explica o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho (Apamt), Edevar Daniel.

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Uma pesquisa realizada pela Pebmed, publicada em novembro de 2020, apontou que 78% dos profissionais de saúde apresentaram sinais da Síndrome de Burnout no período da pandemia. Outro estudo realizado pela International Stress Management Association (ISMA-BR) concluiu que o Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de pessoas acometidas pela Síndrome de Burnout, em decorrência do alto nível de estresse.

O presidente da Apamt explica que o diagnóstico da doença se dá pela confirmação de três sintomas em conjunto: exaustão emocional, quando a pessoa tem cansaço, esgotamento, aversão a contato com problemas relacionados ao trabalho; a despersonalização, quando a pessoa deixa de se envolver nas questões relacionadas ao trabalho, faltas, desinteresse, falta de engajamento; e a queda no rendimento profissional. “Normalmente acontece em cargos de grande responsabilidade: cargos de direção, gerência, mas nas carreiras de médicos e professores, por conta da pressão, também está bastante comum”, explica o médico.

Empresas terão que prestar mais atenção à saúde mental

Para Edevar Daniel, o novo entendimento da OMS a respeito do Burnout obriga as empresas a darem mais atenção à saúde mental de seus trabalhadores. “A síndrome tem relação direta com a atividade profissional. O trabalho é o responsável direto pela doença. Então, as empresas precisam estar atentas a isso e trabalhar a saúde mental de seus trabalhadores. Hoje há muitos questionários e inventários que podem ser aplicados no ambiente corporativo para averiguar essas situações dentro das empresas”, explica.

Se confirmado caso de Burnout no ambiente de trabalho, o médico orienta que a abordagem começa pela mudança na forma de trabalho, no estilo de vida, na organização do processo de trabalho. As pessoas também precisarão de psicoterapia e podem utilizar medicamentos psiquiátricos para quadros depressivos ou de ansiedade. Mas, uma etapa fundamental do tratamento e, muitas vezes, negligenciada pelos empregadores, segundo o especialista, é o retorno ao trabalho. “É necessário que a empresa esteja preparada para receber de volta o trabalhador. Não adianta ele se afastar, tratar e voltar exatamente para o mesmo ambiente e atividade que desencadeou a doença. Precisa ser feito um processo de transição, um programa de retorno ao trabalho, com apoio, adaptação, mudança da carga de trabalho e, até, das atividades desempenhadas”.

Impacto do home office

Além da pressão sobre os servidores da saúde, a cultura do home office, intensificada pela pandemia de Covid-19 também fez aumentar o número de casos no país nos últimos dois anos. O presidente da sociedade de especialidade reconhece que ainda não se tem uma diretriz sobre a promoção de saúde (física e mental) no trabalho remoto, o que deve ser um dos principais desafios das entidades científicas no pós-pandemia. “Sempre se trabalhou com o conceito de que casa é casa, trabalho é trabalho e, agora, esses dois ambientes se misturaram. Nós temos essa preocupação, estamos fazendo essa discussão como sociedade científica. A pandemia trouxe aumento significativo nas doenças mentais dos trabalhadores. O ambiente familiar misturado com o laboral vem trazendo transtornos quanto a horário, estresse, carga de trabalho, produtividade que, logicamente, interfere na saúde mental do trabalhador e quadros de depressão e ansiedade podem desencadear a síndrome de burnout.  É o desafio atual da medicina do trabalho, toda essa discussão sobre saúde e segurança no trabalho no home office”, concluiu.

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