Depois de meses de isolamento e medo, idosos começam a restabelecer a rotina após tomar a terceira dose da vacina
Diabético, hipertenso e acima do peso, Jorge Azevedo, 72, isolou-se por mais de um ano e meio, por conta do coronavírus. Parou de trabalhar, restringiu o convívio com a família, perdeu amigos para a Covid-19, viveu com medo e ansiedade o período mais crítico da pandemia. Vacinado já com a dose de reforço e vendo os números da doença mais controlados, ele ensaia a volta à rotina, mas sem saber muito por onde começar.
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“Foram dois anos perdidos, tínhamos, eu e minha mulher, vários fatores de risco para a doença. Perdemos amigos teoricamente mais saudáveis que a gente. Os filhos continuaram trabalhando, então, interrompemos o contato até com eles, eram visitas quinzenais, na porta de casa. O que mais doeu foi a ausência dos netos. Eles aprenderam a andar e a falar neste período e a gente não participou disso, só por chamada de vídeo. Se não pegamos Covid, graças a Deus, nossa saúde certamente está bem pior que antes. Teve momentos de depressão forte, crises de ansiedade, não fomos ao médico monitorar o diabetes, não fizemos os exames semestrais”, relata.
Como os idosos podem lidar com a volta à rotina?
Para o geriatra Rubens Fraga Junior, cooperado da Unimed Curitiba, uma das principais questões que o idoso precisa focar neste início de volta à normalidade é com as questões de saúde que ficaram em segundo plano durante a pandemia. “Milhões de idosos brasileiros também estão lutando contra desafios físicos, emocionais e cognitivos após um ano e meio trancados em casa, interrompendo as atividades normais e vendo poucas pessoas. Se eles não resolverem os problemas que surgiram durante a pandemia – fraqueza muscular, má nutrição, sono interrompido, ansiedade, isolamento social e muito mais – esses idosos enfrentam a perspectiva de piorar a saúde e aumentar a fragilidade”, avalia. Dizendo que, assim que passarem os 15 dias da dose de reforço, seguindo, ainda, todas as demais orientações de prevenção, o idoso deve reconectar-se com seu médico. “Agora que a maioria dos idosos foi vacinada, eles devem agendar visitas com médicos e exames preventivos, como mamografias, exames oftalmológicos e audição”.
O médico comenta que, como a doença afetou desproporcionalmente pessoas com mais de 65 anos, a pandemia gerou uma sensação de vulnerabilidade em muitos idosos, que antes desfrutavam de uma nova sensação de envelhecimento saudável. “Embora tenha ficado claro por muitos anos que precisamos mudar a maneira como vivemos para acomodar vidas mais longas, a Covid-19 revelou o quão despreparados estamos para capacitar e proteger as populações envelhecidas durante as crises. Argumentamos que as sociedades devem passar por uma mudança em como pensamos sobre o envelhecimento global e remapear o curso de vida para olhar as oportunidades únicas para promover a longevidade”.
A longevidade
O médico destaca que o Stanford Center on Longevity lançou a iniciativa New Map of Life (NMOL) em setembro de 2018 apontando seis princípios para orientar sociedades longevas em uma escala global: (1) novos papéis e oportunidades devem ser criados para que as pessoas experimentem propósito, pertencimento e valor; (2) a educação deve ser uma busca para toda a vida; (3) trabalhar mais tempo deve ocorrer em contextos multigeracionais; (4) dinheiro: oportunidades de ganhar e economizar devem estar disponíveis ao longo da vida para garantir a segurança financeira; (5) os avanços na ciência do envelhecimento devem ser amplamente distribuídos pela população; e (6) a saúde física e a prevenção de doenças são essenciais para cumprir a promessa que a longevidade apresenta. “A iniciativa NMOL se baseia na presunção de que vidas mais longas não são inerentemente problemáticas, mas refletem uma incompatibilidade entre as culturas que nos orientam e a extensão de nossas vidas. Embora não seja garantido, os anos adicionais podem permitir que as pessoas cultivem vidas mais significativas”, explica.
Comer bem, ser fisicamente ativo, restabelecer rotinas e reconectar-se socialmente são as demais dicas do Dr. Rubens Fraga Junior para a retomada pós-pandemia. E, sempre, buscar atividades que proporcionem um senso de propósito. “Todo mundo quer se sentir como se fizesse a diferença no mundo. No entanto, mesmo em condições normais, isso pode representar um desafio para os idosos. À medida que envelhecemos, nos aposentamos de nossos empregos. Nossos filhos estão crescidos, talvez tenham se mudado. As deficiências podem reduzir nossa capacidade de participar de atividades significativas. Mas sempre há onde buscar um novo propósito: para se manterem conectados, alguns aceitam um emprego por exemplo como voluntário, de meio período após a aposentadoria”, cita.
Jorge Azevedo já decidiu: “Além da benção de o vírus não ter contaminado ninguém da nossa família, outro resultado ‘positivo’ da pandemia foi que a empresa fluiu bem sem a minha presença lá, só com participações em reuniões virtuais esporádicas e algumas ligações telefônicas diárias para orientações. Então, vou passar a frequentar o escritório duas vezes por semana e ter mais liberdade nos outros dias, buscar os netos na escola, passar mais tempo com eles. E também, vamos nos dedicar a projetos sociais. Testemunhamos muita solidariedade neste período todo e também vimos muita gente que precisa de ajuda”, relatou.