No livro “Você tem fome de quê”, Deepak Chopra chama a atenção de como a disfunção mente e corpo nos faz engordar, e como usamos a comida para lidar com a vida. Quer emagrecer? Faça o caminho de volta
Conforto, proteção ou segurança? Amor e afeto? Sensação de pertencimento? Realização, sucesso e conquista? Autoestima? Criatividade? Sentido e propósito? Do que você precisa? Deepak Chopra, médico indiano, radicado nos Estados Unidos e famoso por sua abordagem holística do ser humano (ou seja, que encara o ser humano em seu aspecto amplo), lembra que as pessoas esquecem que os caminhos para a felicidade são tão simples de gravar quanto os caminhos para a infelicidade.
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A maioria das pessoas pode não se dar conta que os hábitos antigos, os condicionamentos, as lembranças, os preconceitos, as crenças e o ego criam uma névoa de ilusão. Essa névoa pode fazer com que não percebamos determinados problemas que surjam em nosso dia a dia e como resolvê-los.
“Planejar a felicidade como uma hierarquia de necessidades – ensinamento do psicólogo Abraham Maslow que ficou famoso anos atrás- faz sentido. (…) A sinfonia de hormônios deveria nos lembrar que todas as nossas necessidades estão sendo atendidas- ou ignoradas- em uma confusa sopa química que reflete a eterna complicação da mente humana”, explica Chopra.
Quer emagrecer? Faça o caminho de volta
Se atendermos às necessidades superiores, não seremos constrangidos a retroceder para as inferiores. “Diante de um bolo de chocolate, a autoestima nos permite dizer: ‘não vou fazer isso comigo’. A criatividade enche o dia de tanta satisfação que não precisamos beliscar para acabar com o tédio. Sentido e propósito acabam com a sensação de vazio que as pessoas futilmente tentam encobrir comendo mais. Se satisfizemos as necessidades maiores, só restam duas razões para nos fazer ganhar peso: ou descuidamos de alguma fome ansiosa ou paramos de ficar atentos. Ambos são lapsos de consciência, e trazê-la de volta ao que está acontecendo vai resolver o problema”.
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Chopra defende que o sistema corpo-mente se ajusta sozinho, se não atrapalharmos. Esse ajuste, lembra ele, é o que chamamos de homeostase – uma não mudança dinâmica em meio à mudança. “Todas as funções do organismo se ajustam através dos ciclos de realimentação. Os pensamentos, sentimentos e desejos são o que o organismo recebe de mais importante nesses ciclos”, explica o autor.
Segundo ele, os indícios de consciência corporal são saciedade/fome, conforto/desconforto, energia/letargia e leveza/peso. “Centenas de ciclos de realimentação funcionam sem esforço para nos manter vivos, saudáveis, vigorosos e em movimento sem a nossa participação consciente. Mas o que fazemos é fundamental para conservar biorritmos importantes, sobretudo o sono. Um biorritmo mais favorável está relacionado a um metabolismo mais favorável, que resulta em mais energia e na adequação do peso normal. Um biorritmo prejudicado gera desequilíbrios hormonais, rompendo muitos desses ciclos de realimentação”, destaca Chopra.
Os estados de inconsciência se mostram em sentimentos como impulsividade, depressão, ansiedade, impaciência, vitimização e desamparo. “Quando somos conscientes, temos controle sobre os nossos impulsos. Não viramos marionetes do nosso cérebro. Ao contrário, o usamos como um presente magnífico da mente. Ele faz as intenções e os sonhos se tornarem realidade, e propicia um fluxo de criatividade. A mente superior é explorada por causa dos recursos de inteligência e evolução. Quando levamos um estilo de vida consciente, é possível tomar decisões racionais, que nos dão o poder de moldar nosso futuro. É muito menor o número de consequências imprevisíveis, e, quando elas surgem, confiamos que vamos encontrar uma solução. Não ficamos como joguetes do destino”.
Você entende a obesidade como fato consumado? Cuidado, isso não significa aceitação
Para Chopra, “quando uma pessoa se identifica com o fato de ser gorda, é preciso mudar toda a sua história a partir de um nível profundo. (Uma minoria entre os obesos afirma que ‘gordo é bonito’, e se alguns têm orgulho de marchar de acordo com um ritmo diferente, tudo bem. No entanto, ter orgulho de ser como se é não reduz os sérios riscos à saúde, e em geral percebe-se que essa atitude na realidade é defensiva, pois sugere que o obeso tem sentimentos mais profundos e negativos.) Ou seja, é como um prisioneiro, tão desesperançoso que aprendeu a chamar a prisão de lar. É preciso mover uma montanha de experiências negativas, lembranças, hábitos, fracassos e frustrações. É exatamente a liberdade da qual abriu mão que precisa ser reforçada, ser o tema do dia a dia”.
Segundo o médico, o nosso organismo precisa de entradas e respostas positivas. Os seus ciclos de realimentação funcionam automaticamente, e é por isso que conseguimos sobreviver durante meses ou anos em coma. Entretanto, o sistema nervoso também tem uma segunda parte, que é o sistema nervoso voluntário, que exige a nossa participação. Essa parte reage diante do que dizemos, pensamos e fazemos. “Desligamento”, significa que recusamos essa participação. “Estamos instruindo a nossa mente e o nosso sistema nervoso a seguirem adiante sozinhos. Pode parecer algo neutro, mas não é. Esse desligamento tem muitas formas enraizadas na autocrítica. As principais são: negação, inércia, apatia e resignação. As pessoas com problemas de peso conhecem isso tudo muito bem. Esse desligamento ou desapego não é sinônimo de sabedoria e calma, como o de um Buda. O desapego espiritual é um estado de paz. Já o tipo de desligamento que ignora o que o corpo está nos dizendo tem origem na negatividade – não há nada de pacífico nele. Uma mistura de pensamentos e convicções maléficas se resume em: ‘O meu corpo está contra mim’”.
No livro, o autor chama a atenção para a necessidade de ouvir o nosso corpo e atendê-lo em suas necessidades reais. Colocando cada aspecto – físico, mental, emocional e espiritual- no seu devido lugar. Quando nos alimentamos mal, seja pela qualidade ou quantidade dos alimentos, seja por substituição, tentando responder à impulsividade, à depressão, à ansiedade, à impaciência, à vitimização ou ao desamparo, engordamos. Se aprendemos a nos alimentar mal desde a infância, o desafio de buscar esse equilíbrio é ainda maior. Porém, sempre é possível. A primeira atitude é nos olharmos, buscar ajuda e iniciar um processo de amor e cuidado com a gente mesmo. Sem cobranças! Só cuidado!
12 dicas para comer com atenção plena
Essas dicas ajudam-nos a emagrecer e a comer com consciência de forma a fugir da ideia de se alimentar com o objetivo para preencher vazios, principalmente, o mental:
- Coma apenas quando sentir fome
- Sempre faça as refeições sentado à mesa, posta para esse fim
- Comece as refeições com uma porção moderada. Ao terminar, permaneça sentado e veja se ainda tem fome. Tome um pouco de água antes de comer mais. E só refaça o prato, se realmente, sentir fome
- Saboreie cada garfada, demorando-se nela, dando atenção ao aroma e mastigando um pouco mais do que geralmente faz
- Saiba que o apetite é atiçado pelos sabores gordurosos, salgados e doces, e é reprimido pelos alimentos amargos. Tente tomar uns golinhos de água com gás e limão, e um pouquinho de angostura antes de comer (a água tônica é amarga, mas tem muito açúcar)
- Retire a pele do frango e a gordura de todas as carnes antes de comer
- Coma no ritmo mais lento que puder. O ritmo moderado vai melhorar a digestão. Não encha o garfo ou a colher novamente se ainda não tiver engolido o que está na boca
- Se for do tipo que come depressa, sobretudo se engole sem mastigar, enquanto fala, sirva-se de pequenas porções
- Se você tende a ser impulsivo ao comer, conte a todos da mesa o que pretende comer e cumpra a sua palavra.
- Em um restaurante, peça que levem imediatamente o que não for comer. Não deixe comida no prato para ficar beliscando sem parar
- Se pedir sobremesa, peça que metade dela seja embalada para viagem. Dê a embalagem de presente a alguém da mesa
- Como o correspondente a dois terços da quantidade que o faria se sentir completamente satisfeito (ou seja dois terços de sua porção normal). Ao atingir esse ponto, retire o prato ou levante-se da mesa. Observe que é possível se sentir bem com um pouquinho de espaço no estômago
Manifesto consciente
- O meu corpo deve representar o que eu desejo
- Quero estar no meu peso ideal
- Quero me sentir leve, com energia e alegre
- Não quero sentir dor
- Quero me sentir bem com a aparência do meu corpo
- Quero ficar tranquilo e centrado
- Que me sentir bem comigo mesmo
Escolhas importantes para um estilo de vida mais saudável
- Consumir alimentos naturais e integrais
- Acompanhar os sinais de forme e saciedade do organismo
- Sintonizar as sensações de desconforto e observá-las
- Prestar atenção ao biorritmo diário, sobretudo ao sono
- Permanecer num estado de tranquila atenção
- Propiciar energia e leveza na dieta e também na escolha dos exercícios físicos
- Lidar conscientemente com níveis de estresse
- Ter um conceito de bem-estar em mente e segui-lo
Fonte: Você tem fome de quê, Deepak Chopra, ed. Alaúde.