“Entre as principais causas da depressão patológica está o fato de não se reconhecer emocionalmente nossos traumas, sejam eles de infância, de adolescência ou de vida adulta”
Qual o sentido da vida? Vez ou outra é comum que façamos perguntas como essa. No entanto, quando a depressão vem, a resposta parece uma só: não há sentido algum. Segundo a psicóloga analítica junguiana Sônia Lunardon Vaz, no estado de depressão ocorre uma baixa de intensidade de vida, com um rebaixamento da consciência do aqui e agora. “A energia psíquica encontra-se numa entropia e está voltada para dentro da própria pessoa. Nem todo estado de depressão, no entanto, é patológico. A depressão ocorre para que o indivíduo possa fazer uma introspecção de modo a repensar seus valores e ocupação da existência”, explica a psicóloga.
Entretanto, a depressão torna-se patológica quando permanece por mais de três ou quatro semanas, incluindo ansiedade e angústia, bem como insônia ou o seu contrário hipersonia que é um distúrbio do sono, caracterizado por sonolência excessiva durante o dia ou sono prolongado a noite.
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O tratamento, usualmente, consiste em uma tomada de consciência de sua situação psicológica de modo emocional. Porém, não significa que o problema se resolve, ao se saber, conscientemente, o que se tem ou o que provoca a depressão de modo racional. “Racionalmente, todos sabem o que tem, só não se sabe como pará-lo. A resolução está em saber as causas de modo emocional. Para isso, o indivíduo é orientado a fazer psicoterapia. A medicação, usualmente, prescrita por profissionais da área de psiquiatria, também é bem-vinda, em muitos casos, pois atende à demanda da energia psíquica que estando em defasagem, passa a ser sustentada, tornando mais possível o processo psicoterápico”, avalia a psicóloga. Afinal, o próprio processo psicoterápico exige uma quantidade grande de energia psíquica, “para se fazer a necessária introvisão (ver as coisas com mais clareza) e conhecer o estado emocional que levou a si mesmo a tal entropia psíquica (esse fechamento, essa incapacidade de focar a atenção em outra coisa, senão na própria dor, o próprio estado em que se encontra) ”, explica Sônia.
Herança psíquica
Muitas experiências emocionais/psicológicas, à primeira vista, racionalmente falando, parecem insignificantes ou incapazes de causar grandes estragos. No entanto, o emocional pode derrubar o físico, mais comumente do que a maioria de nós pensa. “Por isso, é tão importante o cuidado com as nossas emoções. Quando a depressão patológica se instala, o trauma emocional em questão, muito vezes já ocorreu há bastante tempo. Isso porque seus reflexos fazem parte de um processo que vai se mantendo, estendendo-se e aprofundando-se com o passar do tempo”, aduz.
Ao contrário do que se diz, psicologicamente, falando, o tempo não cura tudo. Pelo contrário. “Uma emoção vivida em uma situação do passado, pode continua a existir exatamente como aconteceu na linha de tempo emocional. Numa outra perspectiva que não a normalmente utilizada, a situação traumática nem sempre é algo extremamente marcante. Por exemplo, uma vivência constante de desamor ou de indiferença afetiva pode resultar em situação traumática. À vista disso, o trauma acontece também em decorrência de um processo e não apenas de modo súbito ou extremado como é compreendido regularmente”, destaca a psicóloga.
O ser humano ainda se conhece muito pouco quando o assunto é seu bem-estar emocional. Ordinariamente, as pessoas acreditam que o indivíduo introvertido é mais propenso à depressão. A psicóloga explica que não é assim que acontece. “O introvertido passa por processos salutares de introversão de sua energia psíquica porque está sempre se observando internamente. Por conta disso, necessita ficar a sós para fazer suas reflexões. Já o extrovertido ganha mais energia estando em contato com as pessoas e se ressente quando passa muito tempo sem essas experiências coletivas. Essa percepção errônea em relação ao introvertido ocorre também por conta de nossa sociedade latina que em sua grande maioria é extrovertida”, frisa.
Entretanto, as causas da depressão nada têm a ver com o tipo de personalidade, se assim fosse os povos que vivem em ambientes frios ou gelados, como é o caso dos nórdicos, seriam todos deprimidos. “Entre as principais causas da depressão patológica está o fato de não se reconhecer emocionalmente nossos traumas, sejam eles de infância, de adolescência ou de vida adulta “, enfatiza.
A psicóloga junguiana reconhece que entre as causas, da depressão patológica, existe, sim, uma predisposição herdada. Muitos estudos apontam para o fator genético. No entanto, ela ressalta, que herdamos não apenas o físico de nossos pais e ancestrais, mas também o psíquico. “Embora exista a crença de que psiquismo e físico são excludentes, sabemos, pela prática da psicologia, que existe a herança psíquica. Genética também significa psiquismo”, diz Sônia. Além disso, a depressão, bem como toda e qualquer emoção, é contagiosa. Quando adentramos num ambiente hostil, nosso corpo imediatamente se ressente, bem como quando adentramos num ambiente divertido, imediatamente rimos e sorrimos sem nem mesmo saber o porquê. O que significa que os ambientes em que vivemos, seja em casa ou no trabalho, também contribuem para a nossa saúde mental.
Enfrentamento das emoções
De acordo com a psicóloga, a prevenção consiste em enfrentar as emoções. “Numa época em que não se pode ficar triste e nem sentir raiva, fica difícil ser honesto consigo mesmo e admitir certas emoções que deveriam não acontecer pelo critério da razão ou do dever. Porém, precisamos ser honestos conosco. Isso não significa que precisamos colocar na prática o que sentimos, o que poderia ser um verdadeiro desastre, até colocando em risco a nós e a outros. No entanto, encarar nossos sentimentos e emoções equivale a fazer um enfrentamento de nossos instintos e efetivamente razoabilizar nossa sensibilidade”, analisa.
A relação entre depressão e suicídio é grande. Ele é uma resposta do indivíduo a uma existência que ele considera esvaziada de intensidade, sendo que apenas permanece o sofrimento e a dor psíquica, tornando a existência, para ele, sem esperança, sem chance de sair dessa situação psicológica. Por isso, é fundamental que as pessoas não se distanciem de seus próprios sentimentos e emoções, bem como busquem aprender a lidar com as rejeições e as frustrações. “O indivíduo que se apega às suas feridas narcísicas pode, consequentemente, se esvair em verdadeiros tormentos emocionais”, avalia.
Um exemplo comum é alguém, ao final de um romance, por exemplo, em vez de buscar compreender que existe um processo do outro, ao qual ela não possui qualquer controle, se apegar de tal forma à sua dor, de modo que não consegue se conformar com a resolução do outro. “É a isso que chamamos de ferida narcísica. Quando sofremos por algo a que desejamos, mas que racionalmente sabemos que não podemos controlar”.
Buscar ajuda é o melhor caminho para conseguir lidar com sentimentos que nos fazem sofrer. Isso exige coragem e discernimento. As pessoas ainda têm muito preconceitos em relação a psicoterapias. No entanto, ser feliz, sentir-se em harmonia consigo mesmo, exige dar atenção a si próprio, a começar pelos sentimentos com os quais lida no seu dia a dia. Estresse, tédio, mau humor, tristeza em demasia são sinais de que você precisa de ajuda. E cá para nós, não há quem não precise de vez em quando. Algumas vezes, um ombro amigo é suficiente, outras vezes, a ajuda de um profissional é fundamental.
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