Nesta edição da série Por Dentro da Federação, apresentaremos a Diretoria de Inovação e Desenvolvimento da Unimed Paraná
Desde a Idade Média, a medicina vem avançando. Começou com a descoberta de novos medicamentos, passou pela criação de equipamentos, chegou à telemedicina e já vislumbra a impressão de órgãos em 3D. Ou seja: as mudanças não param. E não é só na área da saúde. É também nos comportamentos, nas relações, na forma de se comunicar. A adaptação nem sempre é fácil, mas é extremamente necessária. E é sobre essa necessidade e outras expectativas e conquistas que o médico William Procópio dos Santos, que comanda a Diretoria de Inovação e Desenvolvimento da Unimed Paraná, fala nesta entrevista. Confira o vídeo de abertura clicando aqui e veja a entrevista abaixo!
Qual o trabalho da Diretoria de Inovação e Desenvolvimento?
A inovação é responsável pela transformação da instituição, pela modernização e pelo aperfeiçoamento dos nossos produtos e serviços. E o desenvolvimento, por sua vez, trabalha em três frentes: tecnologia, processos e, principalmente, pessoas. O desenvolvimento humano é essencial para que os aprimoramentos aconteçam.
E qual é o papel dessas três frentes?
Tecnologia é apoio. Vem para dar melhores condições de trabalho, auxiliar nos projetos e, eventualmente, trazer resultados mais efetivos. Já os processos são a maneira de fazer. Eles agilizam o trabalho, mas, ao mesmo tempo, tendem a ser muito repetitivos, praticamente automatizados, e isso pode criar um certo conservadorismo na instituição. Um processo bem feito precisa ser aprimorado sempre. Aprimorar um processo é inovar. E aí entram as pessoas. As pessoas não podem ficar muito dependentes dos processos a ponto de dizerem “sempre foi assim, não precisa mudar agora”, porque isso pode atrapalhar o progresso da instituição. Já pessoas com perfil mais empreendedor, estratégico, que enxergam as próprias necessidades e as necessidades da empresa, ajudam a desenvolver a instituição.
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O principal desafio então é mais em relação às atitudes das pessoas?
Sim. O grande desafio é trabalhar a cultura das pessoas no sentido da transformação. Com a pandemia e as novas tecnologias, o mundo está dando saltos quânticos de mudanças, e a gente precisa se adaptar. Quanto aos processos, o desafio hoje é que eles ainda são muito dependentes das pessoas. Quando se discutia processo há alguns anos atrás, você discutia dentro dos muros da empresa. Hoje ele sai, passa pelo prestador, pelo cliente e só então volta para cá. Ou seja, temos que pensar no processo como uma questão ampla, pois envolve diversos agentes. E isso não é fácil, porque você não tem mais controle sobre ele.
De alguma forma, a pandemia deixou esses desafios mais evidentes?
Sim. A pandemia trouxe uma aceleração, um salto. Um exemplo disso é a questão trabalhista em relação ao home office e a telemedicina. Se a gente fosse implantar esse tipo de atendimento médico em condições normais, acredito que demoraria uns oito ou dez anos para se consolidar. Com a necessidade, funcionou rapidamente.
O senhor considera essas mudanças como conquistas?
Essas mudanças já vinham acontecendo há muito tempo, mas foram potencializadas pela pandemia. Esse momento de crise trouxe muitas coisas ruins, mas também muitas oportunidades.
E quais as expectativas para o futuro diante desse cenário em que estamos vivendo?
Minha expectativa é que a gente consiga acompanhar esse salto da humanidade, porque tudo está mudando muito rápido: o comportamento das pessoas, as atitudes, as visões de mundo, as preferências, as formas de interagir, as expectativas. O cliente que antes esperava uma resposta por mais tempo, hoje quer tudo na hora. O mundo digital fez isso com a gente. Eu sempre gosto de lembrar de um filme em que uma pessoa estava esperando uma carta havia seis meses. Uma vez por semana, ela ia ao correio para ver se tinha chegado. Hoje, em compensação, a gente não dá conta da quantidade de informação que chega por minuto no nosso celular. Isso muda a nossa atitude em relação ao mundo e torna as expectativas mais imediatistas. Como a nossa empresa vai se comportar diante dessas transformações? Eu tenho muita esperança que vai se comportar bem, porque o cooperativismo tem uma semente de colaboração, de participação, que tem tudo a ver com esse mundo moderno. Resta a nós fazer a mudança acontecer.
Qual o balanço da sua gestão à frente da Diretoria de Inovação e Desenvolvimento?
Durante todos esses anos, nós tivemos um avanço muito grande na parte de tecnologia e processos e, agora, nós estamos conseguindo finalmente implantar o Registro Eletrônico em Saúde – o RES – de modo que os laboratórios, hospitais e consultórios médicos possam trazer as informações clínicas do paciente para esse grande banco de dados. As Unimeds de Curitiba, Campo Mourão, Pato Branco e Apucarana, entre outras, já começaram a utilizar. Temos hoje vários prontuários médicos integrados. Essa é uma luta antiga do Sistema, um projeto cuja tecnologia está pronta há mais de cinco anos, mas que ainda enfrenta dificuldades na negociação com todos os envolvidos, na cadeia de saúde, para o compartilhamento de dados.
Recentemente, a Central Nacional Unimed fez uma live sobre o médico de 2030. Na visão do senhor, como deve ser a postura do profissional da saúde diante dos avanços da tecnologia?
Em geral, médicos são conservadores, é da nossa formação. E quem vai mudar isso são os pacientes, que ficam encantados quando a tecnologia é bem utilizada. Esses dias, por exemplo, eu estava na estrada, quando uma paciente me ligou e disse que não estava melhorando. O procedimento normal seria eu pedir para ela marcar um retorno, mas, em vez disso, pedi para que ela mandasse uma foto do olho. Sou oftalmologista. Olhei a foto, entrei no site do receituário eletrônico e passei outra receita para ela. Tudo ali, na hora. Ela ficou maravilhada. Eu não recebi por essa consulta, mas fidelizei a cliente. As pessoas têm que se sentir cuidadas, e as ferramentas da telemedicina e o RES possibilitam ver a ficha do paciente, o exame que ele fez, onde foi atendido, quando operou… uma verdadeira linha do tempo. A própria realidade em que estamos vivendo já está exigindo o uso de ferramentas como essas. Se você não as utilizar, mantendo o mesmo padrão de atendimento e até melhorando, os pacientes não vão aceitar e vão procurar outras soluções que você não está oferecendo. Com o grande número de médicos surgindo, vai haver uma seleção dos profissionais – não dos mais tecnológicos, mas sim daqueles mais dispostos a cuidar das pessoas, que não querem simplesmente faturar uma consulta. Isso não é em 2030. É agora!