“Como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade às nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?”. A resposta envolve pensamentos e emoções
Neste momento de pandemia em que vivemos, as dores físicas e emocionais da humanidade parecem estar exacerbadas. A pandemia apenas colocou a nu, dirão muitos. No entanto, de qualquer forma, parece que nunca foi tão importante ter consciência social e saber gerenciar relacionamentos, como nos dias atuais. Vivemos numa situação de mal-estar civilizatório (Sigmund Freud, o pai da psicanálise, tem inclusive um texto com esse tema), o aumento crescente dos índices de violência, de criminalidade, de suicídios e abuso de drogas apontam como um termômetro de uma vida que parece carecer de sentido.
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A correlação entre as questões econômicas, sociais e emocionais parecem aos poucos se aproximarem. “Nos países desenvolvidos, a tendência é para um individualismo exacerbado, o que acarreta, consequentemente, uma competitividade cada vez maior – isso pode ser constatado nos postos de trabalho e no meio universitário. Essa visão de mundo traz consigo o isolamento e a deterioração das relações sociais. A lenta desintegração da vida em comunidade e a necessidade de autoafirmação estão acontecendo, paradoxalmente, num momento em que as pressões econômico-sociais estão a exigir maior cooperação e envolvimento entre os indivíduos”, nos lembra Goleman, autor do livro, “Inteligência Emocional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente”. Título que há cerca de 20 anos é considerado livro de cabeceira, quando o assunto é o cuidado com as emoções, e que teve atualizações e reedição recentes.
A importância das aptidões emocionais na nossa vida
Até pouco tempo, a própria psicologia, segundo Goleman não conhecia muito sobre as emoções. Foi aos poucos que aptidões chamadas de inteligência emocional, como autocontrole, zelo, persistência e capacidade de automotivação foram ganhando contornos e sendo realçada a importância que têm em nossas vidas. Conforme avançam as descobertas de disciplinas como a psicologia e a neurociência, o homem vai descobrindo coisas como o fato de que, muito provavelmente (os indícios são muitos fortes), posturas éticas fundamentais na vida, por exemplo, vêm de aptidões emocionais subjacentes. O que contribui para sermos pessoas melhores e vivermos melhores.
As pesquisas apontam também que a forma como pensamos (positiva ou negativamente) ajudam a forjar nossos sentimentos e emoções que por sua vez reforçam nossa maneira de pensar e agir, criando e/ou reforçando mecanismos em nossos cérebros que podem nos ajudar ou nos atrapalhar a viver de forma mais saudável ou não em vários aspectos da vida, principalmente, na forma como nos relacionamos com a gente mesmo, com as pessoas, com o mundo. Elas forjam nossa visão de mundo e, consequentemente, a forma com que vivemos, nos ajudando a ser mais ou menos felizes, mais ou menos bem relacionados, mais ou menos realizados e assim por diante.
Como levar, então, inteligência às emoções e pensamentos?
“Como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade às nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?”, nos chama a atenção Goleman. Entre outras coisas, começando por entender que “nossos mais profundos sentimentos, as nossas paixões e anseios são diretrizes essenciais e que nossa espécie deve grande parte de sua existência à força que eles emprestam nas questões humanas”. Isso não significa, porém, que não podemos moldá-los. Pelo contrário, embora a infância e a adolescência sejam a época em que os hábitos emocionais que irão governar as nossas vidas são modelados, temperamento não é destino. “Nossa herança genética nos dota de uma série de referenciais que determinam nosso comportamento, mas os circuitos cerebrais envolvidos são extraordinariamente maleáveis”, destaca o autor.
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Isso significa que podemos educar nossas emoções, nossos pensamentos e a forma como reagimos à nossa volta, com todas as suas implicações, de maneira que possamos trazer ganho à nossa vida. O livro vai pontuando como emoções nocivas são danosas para nossa saúde física, da mesma maneira que fumar é. “Todas as emoções são, em essência, impulsos, legados pela evolução, para uma ação imediata, para planejamentos instantâneos que visam lidar com a vida. As pessoas que estão à mercê dos impulsos, aquelas que não têm autocontrole, acabam por sofrer de deficiência moral”. Isso pode ser contornado quando compreendemos e educamos nossas emoções.
Consciência sobre emoções e sentimentos atuam na compreensão da vida
O fato de nos conscientizarmos que os sentimentos são geralmente indispensáveis nas decisões racionais (que achamos que tomamos), fica mais fácil compreendermos determinadas situações que vivenciamos e agir de forma mais assertiva. O exemplo claro é o fato de que “enquanto o mundo muitas vezes nos põe diante de uma gama difícil de opções (onde aplicar o dinheiro? Com quem casar?), o aprendizado emocional que a vida nos deu (como a lembrança de um desastroso investimento ou uma separação dolorosa), nos envia sinais que facilitam a decisão, eliminando, de pronto, algumas opções e privilegiando outras”, complementa Goleman.
Se o antigo paradigma defendia “um ideal de razão livre do peso da emoção. O novo paradigma nos exorta a harmonizar cabeça e coração”, afirma Goleman. Todas essas descobertas nos levam a reforçar o quanto a educação emocional na infância (e também na fase adulta, seja por terapias ou outros procedimentos paralelos) é fundamental para sermos funcionais e felizes em nossa vida cotidiana, seja com nossos familiares e amigos, seja no nosso trabalho.
O principal recado do livro é: as emoções experienciadas nos moldam muito mais do que julgamos. Elas dão contornos aos nossos pensamentos que dirigem nossas ações que geram consequências que vão reforçar ou negar aspectos novamente das nossas emoções que por sua vez vão retroalimentar nossos pensamentos, num círculo infinito se assim o deixarmos.
Fonte: Inteligência Emocional – A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, Daniel Goleman.