Menos alarde com o coronavírus, mais alerta com a epidemia de dengue

Paraná vive epidemia de dengue (Foto: Arquivo/Agência Brasil)

O país entrou em alerta, nas últimas semanas, com as notícias sobre o coronavírus. A notícia do surto na China causou histeria: a importância da higiene de mãos e do uso de álcool gel voltou a ser destacada com a mesma ênfase do tempo crítico de Gripe A; pessoas começaram a buscar informações nas mais diversas fontes e espalhar notícias falsas sobre casos, sintomas e até sobre alimentos que evitariam as doenças causadas pelo vírus e, os mais radicais já recorreram a máscaras para sair às ruas, protegendo-se de uma doença que, pelo menos até agora, não tem nenhum caso confirmado nem no Paraná, nem no Brasil e, sequer, na América do Sul. Enquanto isso, o Paraná vive uma epidemia de dengue, com mais de 10 mil casos confirmados no período epidemiológico e sete mortes já registradas. Mas a população não mantém o mesmo estado alerta como para a possível chegada de um novo vírus da China.

“Dengue é a pauta. Isso que é importante. Estamos monitorando o coronavírus, de olho nas notícias em tempo real sobre a situação no mundo, mas o que temos de concreto aqui no estado é que saltou de 7.618 casos para 10.880 em uma semana (entre 21 e 28 de janeiro)”, comentou o secretário estadual de Saúde, Beto Preto.

Sorotipo diferente

O secretário explica que a principal causa da epidemia de dengue é que, nesta temporada, no Paraná, a doença está sendo causada por um vírus do sorotipo 2, quando o mais comum eram mosquitos infectados pelo sorotipo 1. “É como se fosse um novo vírus de dengue. Então, as pessoas não têm a memória de imunidade. O vírus circulante pode atingir qualquer um. E, ao longo do tempo, com esse período de dengue sob controle no Paraná, as pessoas entraram em uma zona de conforto, não dando a mesma atenção ao controle dos possíveis focos de proliferação do mosquito”, explicou.

Beto Preto citou, ainda, a presença de um vírus do sorotipo 4 na região da fronteira, no Oeste do Estado. “É numa quantidade menor, mas, como as pessoas não estão imunes, ficam doentes. O Paraguai está em epidemia de dengue. Então, a região de fronteira é uma zona de risco sanitário”.

O fato de a epidemia deste ano estar sendo causada por um sorotipo diferente deixa sob risco até a população que já foi vacina contra a dengue. Londrina, que foi uma das cidades que recebeu a campanha de vacinação em 2018, voltou a registrar um grande número de casos nesta temporada, com 896 casos confirmados até 28 de janeiro.

Falta de inseticida nos “fumacês”

Outro problema que contribuiu para a epidemia de dengue foi a falta do inseticida utilizado nos “fumacês”, que as equipes de vigilância espalham pelas ruas das cidades mais críticas. Segundo Beto Preto, o estado chegou a ficar seis meses sem o veneno Malathion, por falta de repasse do Ministério da Saúde. “Agora, o Ministério está nos enviando uma última remessa. Temos a necessidade de 40 mil litros do veneno e estamos recebendo 19 mil litros. Vamos utilizar nos municípios mais críticos”, disse, relativizando, também o efeito do inseticida.

“O mosquito está ficando resistente. Neste ano, verificamos que, depois de cinco ciclos do fumacê, apenas 35% dos mosquitos eram eliminados. O mosquito, ao longo do tempo, foi adquirindo resistência genética ao veneno, tanto que o Ministério decidiu trocar o produto para o próximo ano”, comentou. “Não é o inseticida que controla a dengue. É o controle da proliferação do mosquito. Mais de 80% dos focos são removíveis. Estão nas casas das pessoas, no fundo do comércio, no fundo da escola, nos depósitos das empresas”, afirmou.

O combate à epidemia de dengue

Citando que os municípios de Nova Cantu, Florestópolis e Quinta do Sul reduziram em 90% o número de casos novos, o secretário diz que o importante é fazer o trabalho de remoção técnica para o combate à epidemia de dengue. “Não se trata só de se desfazer de coisas velhas, mas de uma remoção técnica com tratamento, utilizando larvicida, principalmente onde tem acúmulo de água, nos locais onde o mosquito gosta de se reproduzir e o cidadão tem dificuldade de encontrar”, diz.

“Dengue mata, e por isso a necessidade de se falar sobre o assunto. A dengue parece distante das pessoas, mas, quando chega a epidemia, pega de surpresa. Falaremos de coronavírus, sempre que tivermos novidades, mas temos dengue, febre amarela, sarampo, que são situações mais graves para nós no momento”, concluiu Beto Preto.

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