Percurso Assistencial: a Jornada do Paciente
“O valor tem que ser baseado nos resultados obtidos na melhora do paciente em relação ao dinheiro investido. Enquanto o foco não for esse, todo o sistema de saúde terá soma zero”, Michael Porter
Ao mediar a mesa-redonda “A jornada do paciente durante o percurso assistencial”, Faustino Garcia Alferez, diretor de Saúde e Intercâmbio da Unimed Paraná, lembrou que “quando falamos em valor sempre pensamos em valor comercial, mas o nosso objetivo aqui diz respeito ao valor assistencial para o paciente”, lembrou.
Na plenária, da manhã, do dia 8, no 26º Suespar, Daniel Greca, da KPMG, Marcelo Nitta, da Mapes Solutions, e Marcelo Dallagassa, especialista em Tecnologia da Saúde, da Unimed Paraná, falaram sobre essa jornada e questões impactantes relacionadas ao modelo baseado em valor.
Greca iniciou com o tema “remuneração com base em valor” e disse que veio com o objetivo de transmitir uma visão prática e mais objetiva sobre valores. Além de apresentar, de forma didática, vários modelos de pagamento, que não são engessados e percorrem do tradicional ao Modelo Bundled.
O palestrante da KPMG lembrou que a cultura devora a estratégia, portanto, é fundamental prestar atenção a essa questão. “Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% do que é gasto com saúde é desperdício, seja por ineficiência, redundância ou fraude”, destacou.
Para ele, a transparência vai transformar a saúde nos próximos anos. O conceito de valor é simples, mas sua prática é bastante complexa. “Como vamos discutir velhas e novas práticas, se nós nem chegamos, ainda, sobre um consenso do que é valor? ” E apresentou o que julga a fórmula de valor: valor = equilíbrio -> qualidades (desfecho) /custos (todo episódio clínico)
Segundo Greca, a reforma no modelo de pagamento é necessária, é ela que dará sustentabilidade, não só financeira, mas também clínica ao sistema. “Não é uma ferramenta de pagamento que vai resolver todos os problemas de saúde no Brasil. Também não será um único modelo, várias peculiaridades precisam ser respeitadas. É inútil a tentativa de fazer com que os prestadores façam mais com menos”, apontou, lembrando lições aprendidas e desafios. Entre eles, questões como confiança, visão a longo prazo e incorporação de tecnologia e transparência.
Marcelo Nitta formou uma consultoria dentro de um grupo da Universidade de São Paulo que está desenvolvendo projetos baseados em valor na área de saúde. “Basicamente nosso trabalho tem focado em desenvolver soluções dentro do Ecossistema de Saúde”, explicou.
O representante da Mapes Solutions trouxe uma visão de como poderia ser conduzida a saúde baseada em valor dentro da prática das Unimeds, apresentando os custos em cuidados à Saúde. “Isso é um aprimoramento contínuo, não vai ter uma jornada final”, avaliou.
Segundo ele, estudos apontam que, se continuar no mesmo ritmo, por volta de 2050, os Estados Unidos estarão gastando toda a riqueza produzida no país em saúde. Um dos exemplos, é o custo anual de oncologia recém-aprovado, que trará custos crescentes em medicamentos e outros procedimentos em saúde. “Não podemos permitir que chegue nesse nível insustentável”.
No caso do Brasil, chamou a atenção para a questão do desperdício, por incentivo. “O impacto do novo rol de 2018, por exemplo, foi de R$ 2,03 bilhões de despesa total. Se nada for feito, daqui a pouco, muita gente não vai conseguir ser atendida”, lamenta.
Os modelos de decisão analítica no entender da economia da saúde devem confrontar benefícios e custos. Por isso, ele defende a importância da Medicina Baseada em Evidências, com apoio na tecnologia da informação. Além disso, reforça a necessidade de um sistema centrado no paciente. E alerta: “Nós não vamos resolver problemas de custos quando o paciente já estiver indo para a UTI ou precisar de uma cirurgia complexa”. O grupo está propondo à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a criação de um protocolo. “O problema é o incentivo, como as pessoas são provocadas a cuidarem de si. Se a gente não criar objetivos apropriados, não vamos contribuir para a melhoria da saúde em termos populacionais”. Nitta encerrou indicando a leitura de dois livros sobre essa questão, o de Joe Flower, de 2010, que trata do Programa Obama Care, e o de Michael Porter, “Repensando a saúde”.
Marcelo Dallagassa, da Unimed Paraná, mestre e doutorando em Tecnologia de Saúde pela PUC Paraná, falou sobre Mineração de Processo, Jornada do Paciente e o trabalho, em relação ao tema, desenvolvido pela Unimed Paraná. “Mineração de processo em uma indústria é fácil, tranquilo, mas na saúde é um pouco diferente pela variabilidade de eventos. O objetivo da mineração é desenvolver algo que trabalhe essa variabilidade dentro de um fluxo de processos. O que na saúde tem que estar alicerçada à comparabilidade com a visão do modelo de referência”.
O especialista apontou a avaliação em tecnologia em saúde, a auditoria de contas médicas, o controle de fraudes e anormalidades, e a avaliação de especialidades médicas. E questionou o público: “Entre outras questões, os procedimentos são realizados de acordo com protocolos e diretrizes?” Dallagassa mostrou a visão do timeline, a linha do tempo, da jornada do paciente. “Qual seria a evolução dentro da patologia? Qual seriam todas as fases e percursos do paciente que tem determinado diagnóstico, por exemplo, câncer de mama? ”
Deu exemplo também da cirurgia bariátrica, que deveseguir as diretrizes do Ministério da Saúde. Com os dados administrados de um paciente, é possível registrar seu atendimento, consultas com especialistas, exames laboratoriais, consultas com psicólogos, etc. E frisou a importância de se ter uma base de modelos de referência, gerando assim uma base de conhecimento, que possa apontar inconformidades.
A ferramenta de mineração, além de salvar, pode fazer a adição dos modelos de referência. “Poderíamos fazer um desenho de protocolos e diretrizes, adequar as diretrizes a algumas variantes específicas, dizendo por exemplo, qual exame tem que estar agregado”. Para finalizar, comentou sobre o projeto com foco no paciente, desenvolvido pela Unimed Paraná. “O modelo de valor centrado no paciente é um projeto de modelo de regulação cognitiva, ferramenta que já está em desenvolvimento há seis meses”, finalizou.