Hospitais investem na organização de processos para oportunizar uma experiência alinhada com as atuais expectativas e à segurança do paciente
A palavra reinvenção foi incorporada de forma definitiva na área da saúde simultaneamente à pandemia. Leitos lotados, profissionais exaustos e o ambiente hospitalar, que sempre foi reconhecido pelas normas e protocolos, já não parecia tão seguro assim. Dentro desse cenário, o protagonismo dos profissionais para manutenção da segurança vem sendo compartilhado com os pacientes na intenção de superar as dificuldades. Esse esforço conjunto busca a melhor reciprocidade no relacionamento e na utilização do espaço. No Hospital da Unimed Ponta Grossa (HGU), o responsável pela Gerência Administrativa Financeira Hospitalar, Jorge Soistak, conta que o último ano foi de busca por melhorias nesta direção de levar segurança a todos os envolvidos.
“A pandemia transformou nosso modo de trabalho em várias frentes. O maior desafio foi justamente a adaptação rápida, principalmente, porque os processos em relação à Covid-19 mudavam o tempo todo, com novas regras, protocolos de segurança, normas, diretrizes e decretos. Esses fatores tornaram o ambiente desafiador, pois com uma estrutura de atendimento 24 horas, e as condições do hospital funcionando como um organismo vivo, com mudanças necessárias e surpresas, as respostas precisavam ser imediatas fosse para os profissionais ou para os pacientes”, destaca Soistak.
Além do cenário pandêmico, o responsável pela gerência hospitalar do HGU aponta que há uma tendência de os hospitais passarem por um processo de aprimoramento na experiência do paciente, o que invariavelmente passa pela segurança. “Ofertamos segurança tanto para as equipes quanto para os pacientes, com garantia de que toda a estrutura do hospital proporcione essa condição. Isso é possível por meio do fortalecimento de protocolos, sua aplicação direta e o uso de metodologias claras. Queremos que o paciente seja bem atendido, fique o menor tempo dentro do hospital, e que durante esse período tenha a melhor experiência. No HGU, estamos em uma fase primordial de otimizar a estadia e a experiência do paciente e mensuramos isso via pesquisa NPS, a fim de coletarmos dados para o contínuo aperfeiçoamento dessa integração”, explica.
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Em Campo Mourão, no Hospital Unimed Unidade Centro (HUUC), a gestão da segurança tem se mostrado eficaz por meio da sinergia entre as questões administrativas e o cuidado integral com a saúde do paciente. “Atuamos por meio dos seis protocolos internacionais de segurança do paciente, aplicados com o objetivo de evitar uma reincidência no internamento. Associamos essa perspectiva ao processo interno de identificação de melhorias, procedimentos e sistemas que visam apoiar a prevenção de eventos adversos”, explica o gerente-geral do HUUC, Marcos José Rocha.
Segundo Rocha, a Covid-19 exigiu o aprimoramento da segurança e reforçou a necessidade de rotinas hospitalares. “No HUUC, os principais desafios envolveram a adequação de infraestrutura, o gerenciamento de equipes, a gestão de compras devido à possibilidade de escassez de materiais médico-hospitalares, gestão de leitos e equipamentos para assistência aos pacientes infectados pelo novo coronavírus. Com apoio do programa Segurança em Alta, que já estava em andamento, apuramos o olhar crítico quanto à segurança dos profissionais e pacientes. Motivamos ainda mais os hábitos de higienização regular das mãos, cuidamos da gestão de acesso ao ambiente hospitalar e controlamos os resíduos. Dessa forma, envolvemos todos no processo, desde pacientes até responsáveis e acompanhantes, e concluímos que as mudanças implementadas melhoraram o ambiente e todo o nosso serviço”, conta Rocha.
Cultura de segurança
Focado na educação contínua das equipes dos hospitais prestadores, o Programa Segurança em Alta desde 2015 tem como objetivo alinhar processos promovendo uma assistência mais segura aos pacientes internados. Assim, hospitais que possuem atendimento a pacientes particulares, do Sistema Único de Saúde (SUS) ou até mesmo de outros convênios recebem o mesmo tratamento. O programa tem como premissa olhar para os processos da instituição independentemente da fonte pagadora.
Conforme explica a coordenadora de Gestão da Rede Prestadora da Unimed Paraná, Carla Moreira Fortes, o programa contribui com as instituições hospitalares em seus desafios de Gestão e de Qualidade Assistencial. “Atualmente contamos com 16 Singulares e 56 hospitais participantes, o que demonstra a consolidação do Segurança em Alta. As intituições estão alinhadas e compreendem que é possível avançar sempre em uma melhoria contínua para entregar uma medicina de valor aos clientes”, observa a coordenadora.
Nos 56 hospitais, são 6.778 leitos que respondem por quase 65% do custo médico hospitalar da Unimed no Paraná. De acordo com a analista da Gestão da Rede Prestadora da Unimed Paraná, Ana Paula Heier, mesmo aqueles hospitais que possuem um programa de qualidade já estabelecido conseguem perceber a evolução a partir do programa. “Há três hospitais que obtiveram a acreditação hospitalar ONA após iniciar no Segurança em Alta. Foram eles o Hospital Policlínica, de Cascavel, e o Hospital Sugisawa, de Curitiba, com certificação Nível 1 ONA. O HGU, de Ponta Grossa, obteve o upgrade para o Nível 2 e está buscando o Nível 3”, relata.
A Organização Nacional de Acreditação (ONA) é uma entidade não governamental e sem fins lucrativos que certifica a qualidade de serviços de saúde no Brasil. “Os processos de avaliação e auditoria como do Segurança em Alta são muito importantes porque demonstram as oportunidades de melhoria. Entendendo o hospital como um organismo vivo, em que tudo ocorre simultaneamente, esse programa nos ajuda a entender a jornada completa administrativa e do paciente”, conta Soistak.
Em 2021, o Hospital Nossa Senhora das Graças, de Curitiba, recebeu a primeira classificação Diamante, concedida pelo Segurança em Alta. Para o presidente da Unimed Curitiba, Rached Hajar Traya, a cultura da qualidade tem recebido crescente atenção das organizações de saúde e o programa é um excelente recurso para os hospitais gerenciarem os cuidados no atendimento ao paciente. “Diante das complexidades que elevam o potencial de ocorrência de incidentes, erros ou falhas, não existe como oferecer uma boa assistência médica sem passar pela segurança. Cada vez mais precisamos identificar o risco associado ao cuidado da saúde em todas as fases de atendimento ao paciente, e buscar incessantemente formas de reduzir e mitigar isso”, pontua Traya.
O apoio do Segurança em Alta aos hospitais durante a pandemia se manteve ativo em formato virtual. Apesar dos receios iniciais, os 307 encontros com prestadores e as 484 horas em orientações contabilizadas em 2020 resultaram na facilitação do acesso aos prestadores. “O alcance do on-line acabou sendo muito maior. Se fosse presencialmente, provavelmente não teríamos mais de 200 pessoas participando de todo processo. Entendemos isso como um avanço”, afirma Ana Paula.
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