Acompanhe o novo episódio da série “O que é ser médico hoje?”. O entrevistado é o neurocirurgião pediátrico e funcional, Silvio Machado
A Revista Ampla iniciou, no dia 18 de outubro, uma série sobre O que é ser médico hoje. Com um episódio por mês, a série vai ouvir médicos durante um ano, e o material será aproveitado para um documentário sobre o mesmo tema.
Confira aqui o oitavo episódio da série
A ideia é discutir os caminhos, as transformações e o que é perene nessa profissão tão impactante para todos nós, uma vez que carrega em si um objetivo ímpar, o cuidado com a vida, a começar pelo compromisso assumido pelo médico ao término de sua formação acadêmica – o famoso juramento de Hipócrates.
Neste nono episódio, o entrevistado é o neurocirurgião pediátrico e funcional, Silvio Machado. Confira!
A importância da confiança na relação médico-paciente
São 40 anos de vivências, aprendizados e cuidados, principalmente com crianças. Dentro da neurocirurgia, Silvio Machado se especializou em neurocirurgia pediátrica e funcional. Ele fez a residência na Inglaterra, onde atuou profissionalmente por algum período. “Eles estão muito mais avançados que nós em termos de organização e recursos, mas a medicina em si é a mesma em qualquer lugar do mundo. Não existe uma diferença no tratamento com o paciente”, explica.
Machado conta que o atendimento à criança costuma ser mais lúdico. Os pequenos não criam barreiras e o tratamento costuma ter uma postura diferente da do adulto. “Já faz muito tempo que abolimos o uso do avental branco para não assustar as crianças. Isso aproxima o médico da criança facilitando a relação”, relata.
Para o neurocirurgião, a confiança é a base da relação médico-paciente. “Embora o médico não seja dono da verdade absoluta, é preciso estabelecer códigos de conduta e procedimentos que garantam os melhores recursos disponíveis para o tratamento do paciente. Sem confiança entre as partes, isso é impossível”, pondera.
A telemedicina, para Machado, tem algumas vantagens e vai eliminar as etapas mais burocráticas e funcionais. Ela é muito útil na transmissão de dados, por exemplo. Porém, o contato direto com o paciente precisa ser preservado. “Você saber das reações do paciente, saber como ele se comporta, como ele entra na sala, como anda e como enfrenta toda a situação, muitas vezes dá a ‘chave’ de muitos diagnósticos”, analisa. “E isso a telemedicina não faz”, complementa.
Silvio Machado defende o treinamento recebido pelos médicos para lidar com a finitude. Ele ressalta, porém, que em muitas situações é preciso esquecer a técnica. “Afinal, somos humanos e temos sentimentos iguais aos do paciente”, diz. “É sempre muito dolorido perder um ente querido, ainda mais quando é uma criança. Isso é algo muito difícil. Numa hora dessas, não tem como, as emoções fluem. O médico deve esquecer as suas técnicas de enfrentamento e se posicionar da maneira mais humana possível”.
Ele acha interessante a conexão que o senso comum faz de que o “coração” é o principal órgão do corpo. “Isso do ponto de vista emocional, né?”, questiona. Machado esclarece que o corpo é um organismo regido pelo cérebro. “Todas as funções são comandadas pelo cérebro. O coração é comandado pelo cérebro. Embora ele funciona de maneira automática, é o cérebro que define todas as funções”, esclarece.
Com 40 anos de experiência, Machado se sente completamente realizado, mas tem muitos desafios pela frente. Ele reconhece os sacrifícios, inclusive os da família, para poder ser o profissional que é. Para ele, a maior alegria de ser médico é a amizade estabelecida com as crianças. “Eles fazem desenhos, fazem cartões com o endereço ao tio Silvio junto com um coração. Para mim, esse reconhecimento é a minha grande alegria”, finaliza.