Novos modelos de negócio e os desafios da saúde suplementar

Aumento de despesas, mudanças estruturais, planejadas ou não, e novos modelos de negócio esboçam um pouco a complexidade e os desafios da saúde suplementar

Quais são os principais desafios na saúde suplementar quando falamos sobre estratégia? Esse questionamento foi o tema central do primeiro painel do Fórum Estratégico Unimed, realizado na manhã de sexta-feira (3/12), sob a apresentação do professor titular do Insper e coordenador do Centro de Regulação e Democracia, Paulo Furquim de Azevedo. Ao abordar a consolidação, a concorrência e o desempenho de mercado, o palestrante destacou que a crise enfrentada pelo setor, apesar de ter sido agravada em função da pandemia de Covid-19, teve início há aproximadamente sete anos.

Nesse período, houve a perda de cerca de 3,5 milhões de beneficiários em todas as modalidades do setor da saúde suplementar, com consequência na redução da taxa de cobertura e, ainda, um alto impacto sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), que acabou por absorver esses pacientes. “E, além desses 3,5 milhões que deixaram de ser beneficiários de planos de saúde, parte dos 47 milhões acabaram por optar por planos mais baratos, o que chamamos de downgrade de planos de saúde”, afirmou.

Entre as causas destacadas por Azevedo, a principal tem relação com as despesas na saúde suplementar, fator em que o Brasil se assemelha muito a outros países pelo mundo. “As despesas com saúde no Brasil correspondem a aproximadamente 9,3% do PIB, o que soma R$ 693 bilhões. Na saúde suplementar, as despesas assistenciais, administrativas e totais também têm evoluído cada vez mais”. Entre outras causas desse aumento dos custos, estão fatores incontroláveis, como as transições epidemiológica e demográfica, bem como as constantes renovações tecnológicas, o que sobrecarrega as despesas.

Os desafios, conforme apresentado por Azevedo, são estruturais, pois há uma demanda crescente – em virtude da evolução demográfica -, porém com maiores dificuldades financeiras. Ou seja, é o momento de pensar em como atender esse público com custos acessíveis.

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Problemas centrais: ônus e bônus da decisão

Entre os problemas elencados pelo palestrante, estão os relacionados principalmente com a cadeia de saúde, em que há o ambiente regulatório e o contato com prestadores de serviço. “Esse ambiente precisa ser organizado e estruturado”, lembrou. “Ao tomar uma decisão, há uma separação entre o ônus e o bônus que essa atitude traz, e isso deve ser pensado considerando-se o que é melhor para o sistema – o que vai além da operadora de saúde. São questões como ‘faz ou não o exame e a consulta, vai ou não ao pronto-socorro’, bem como o viés de fornecedores relacionados com órteses, próteses e medicamentos. Existe uma ética médica para essas tomadas de decisão, mas nem sempre ela é respeitada”.

Outra problemática é a judicialização da saúde, com centenas de milhares de processos que, em sua maioria, acabam moldando a política de saúde. “A judicialização é um desafio aos gestores, uma vez que as decisões judiciais são permeadas pela desinformação, com o judiciário se tornando o ator central na política de incorporação de tecnologias”, disse.

Como consequência dessas problemáticas, Azevedo destacou, além do impacto das decisões judiciais, o desequilíbrio dos contratos, a elevação de custos e repasse, e a dificuldade de operação de planos individuais.

Novos modelos de negócio

Em resposta às despesas do setor e aos desafios estruturais, está o surgimento de novos modelos de negócio na área da saúde, como a criação de ferramentas – reguladas e não reguladas -, e o nascimento das chamadas health techs. Como exemplo, Azevedo pontuou a startup Doctoralia, uma plataforma matchmaker que não é regulada, e as operadoras verticalizadas, que têm regulação. “Em todos os modelos citados há a redução de discricionariedade do paciente e do médico individual, com a utilização de diferentes instrumentos, como a redução do espaço para escolha do paciente via incentivo ou vedação, e os diferentes efeitos percebidos, como o controle das despesas e a redução da sinistralidade”.

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O Fórum marcou a retomada do Sistema em eventos presenciais e inovou no formato, permitindo a troca de experiências e o debate
entre os participantes

Como se posiciona a Unimed?

Um dos trunfos da Unimed na atualidade é a reputação e o valor que a marca possui, bem como o modelo cooperativista. “Nele, há a centralidade do médico, diferente de algumas operadoras verticalizadas, o que promove uma vantagem competitiva. Afinal, o cooperativismo deve ser visto como vantagem, ainda mais em uma época de tantas transformações”. Por outro lado, há relato de dificuldade na atração de novos médicos, assim como na retenção dentro do Sistema de médicos mais renomados.

Outro destaque apresentado por Azevedo é a atuação nacional que a Unimed tem, mas que ainda não é explorada em sua plenitude. Como respostas estratégicas dos principais players de mercado estão a criação de planos de baixo custo, as relações contratuais com alinhamento de incentivos, e estratégicas organizacionais, como a segunda opinião, a telemedicina e a coparticipação.

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