Acompanhe o décimo primeiro episódio da série “O que é ser médico hoje?”. O entrevistado é o cardiologista Gustavo Carvalho
A Revista Ampla iniciou, no dia 18 de outubro, uma série sobre O que é ser médico hoje. Com um episódio por mês, a série vai ouvir médicos durante um ano, e o material será aproveitado para um documentário sobre o mesmo tema.
Confira o décimo episódio da série
A ideia é discutir os caminhos, as transformações e o que é perene nessa profissão tão impactante para todos nós, uma vez que carrega em si um objetivo ímpar, o cuidado com a vida, a começar pelo compromisso assumido pelo médico ao término de sua formação acadêmica – o famoso juramento de Hipócrates.
Neste décimo primeiro episódio, o entrevistado é o cardiologista Gustavo Carvalho. Confira!
O poder de cuidar do coração dos pacientes
Um dos sonhos de menino era pilotar aviões. Um problema auditivo se contrapôs ao projeto. Em paralelo, a observação da rotina do pai foi trazendo um encantamento, transformado depois na mesma profissão. A medicina e a cardiologia estreitaram ainda mais os laços entre Gustavo Carvalho e o pai. “Na minha lembrança está muito viva os cuidados do meu pai para com os pacientes. Creio que ali, a ‘semente’ da medicina foi plantada em mim”, relembra.
Especializado em hemodinâmica e cardiologia intervencionista, Carvalho realiza diversos procedimentos cardíacos. “É uma cardiologia bem atuante na resolução dos problemas do paciente. Eu realizo angioplastia, desentupimento de válvulas, corrijo problemas congênitos”, explica.
A prática coloca-o em contato direto com a morte. E cuidar do coração das pessoas é, de certa forma, adentar no íntimo delas. “Antes do coração, o cuidado primário é com a pessoa, com o indivíduo. É preciso estabelecer uma relação de confiança para conseguir trabalhar com segurança e resolver a queixa do paciente”, pondera.
Mesmo tendo perdido alguns pacientes, Carvalho destaca a inexorabilidade da morte. “Dentro dos meus princípios, eu creio na eternidade. Viver, nesse caso, então, é a exceção. O morrer faz parte do viver”, filosofa.
O cardiologista reconhece alguns benefícios da telemedicina, mas ressalta a importância do contato direto para realizar diagnósticos eficazes e tratamentos adequados. “Não é tudo que pode ser feito à distância”, frisa.
Carvalho entende que um bom atendimento requer tempo. Isso nunca pode se perder de vista. Com a chegada dos grandes conglomerados de saúde, esta situação pode mudar. “Os médicos poderão ganhar menos e, na ânsia de aumentar o rendimento, podem dispender menos tempo que o ideal”, analisa. “Para mim, a consulta precisa durar o tempo para atender bem aquele sujeito que está na minha frente e com alguma dor ou sofrimento”, completa.
Quando pensa na medicina do futuro, Gustavo teme que tudo vire um algoritmo tecnológico. Basta uma pesquisa rápida na internet e os resultados são um somatório de diagnósticos possíveis. “O grande detalhe é a interpretação desses dados. E neste sentido, a relação médico-paciente é absolutamente insubstituível. A tecnologia está aí e só vai avançar. Mas cabe a nós, médicos, o discernimento de até onde ir”, pondera.
O médico vê a rotina diária como uma sucessão de pequenas grandes vitórias. Quando regressa para casa, sente sempre alegria pelo trabalho realizado. “Não sinto tristeza na minha profissão. Só alegrias. E isso pra mim é a medida do sucesso profissional”.
Quando olha pelo retrovisor da própria história, Carvalho é só felicidade. Emociona-se ao lembrar o aprendizado com o pai, regozija-se com a trajetória de mais de 20 anos de profissão. “Acabei me tornando médico e também piloto de avião nas horas de lazer. Somando tudo, eu sou apenas gratidão. Isso me motiva a continuar todos os dias. E no fim, felicidade todos os dias. Só felicidade”.