Acompanhe o quarto episódio da série “O que é ser médico hoje?”. A convidada é a médica residente em pediatria Katerin Martins Demozzi
A Revista Ampla iniciou, no dia 18 de outubro, uma série sobre O que é ser médico hoje. Com um episódio por mês, a série vai ouvir médicos durante um ano, e o material será aproveitado para um documentário sobre o mesmo tema.
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A ideia é discutir os caminhos, as transformações e o que é perene nessa profissão tão impactante para todos nós, uma vez que carrega em si um objetivo ímpar, o cuidado com a vida, a começar pelo compromisso assumido pelo médico ao término de sua formação acadêmica – o famoso juramento de Hipócrates.
Neste quarto episódio, a entrevistada é a médica residente em pediatria, Katerin Martins Demozzi. Confira a matéria e o vídeo!
Ser médico é se doar para atender os pacientes
Foi preciso atravessar o país para ter a confirmação. Na divisa do Brasil com a Colômbia e Venezuela, mais precisamente em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a médica recém-formada, Katerin Martins Demozzi, aceitou a vocação de ser pediatra.
O sonho da medicina era acalentado desde criança por influência de um primo bombeiro e enfermeiro. Encerrada a graduação numa faculdade de Maringá (PR), voluntariou-se num programa militar e partiu rumo a São Gabriel, cidade por onde se chega apenas de barco ou avião, a cerca de 850 quilômetros de Manaus. Com um pequeno grupo de pouco mais de dez pessoas, ficou lá por um ano. “Nós tivemos que fazer muito com quase nada. Nós éramos a única opção mais próxima para praticamente toda a população daquele lugar”, relembra.
Segundo Katerin, o grupo era muito unido e empenhado. “Tínhamos que correr muito atrás de praticamente tudo. Lá aprendemos, cuidamos dos pacientes e nos doamos”. O contato com uma cultura tão diversa ampliou o desejo de se dedicar à pediatria. “Lá eu tive certeza que eu quero cuidar das crianças”, afirma. Ao regressar, iniciou a residência, que está praticamente no fim.
Katerin acredita que ser médico é se doar, usar de todo o conhecimento e recursos disponíveis para atender bem os pacientes. “No caso das crianças, os cuidados e a atenção também se estendem à família. É desafiador, mas muito gratificante”, analisa.
Recém-formada, ela experienciou a telemedicina. “Muitas vezes, atendíamos o telefone de um técnico de enfermagem que nos relatava o problema. Indicávamos as primeiras condutas a serem adotadas até que o paciente pudesse chegar até nós”, conta. “O detalhe é que muitas vezes, isso significa um, dois dias navegando pelo rio”, completa. A médica reconhece os benefícios, mas avalia que a telemedicina precisa ser utilizada com muito critério.
Durante a pandemia, percebeu que a saúde mental das crianças foi muito mais atingida que os próprios problemas respiratórios. “Muita gente foi afetada nesses últimos dois anos, mas a saúde mental das crianças, principalmente, foi negligenciada”, pondera.
Katerin vê alguns benefícios na chegada dos grandes grupos de saúde ao Brasil. Ressabia-se, porém, de que a homogeneização pode tirar a “humanidade” do atendimento, bem como baratear a prestação do serviço médico.
Para ela, a confiança é a base da relação médico-paciente. “É importante que o paciente saiba que a gente está com ele, que está junto, buscando a melhor solução para cada caso”. Prestes a terminar a residência, Katerin vai seguir por um tempo na pediatria geral, fazendo plantões e atendendo em clínicas. O futuro, porém, ela tem como certo: “quero ser intensivista pediátrica e, em breve, vou me subespecializar na área”.
Dos três anos de preparação para ingressar no curso superior, mais os seis anos da graduação, um ano de voluntariado e quase três de residência, Katerin é só orgulho. “Foi um longo caminho percorrido. Muito estudo e empenho. Eu tenho certeza que a pediatria é para mim. Quando chega o fim do dia, mesmo cansada, vale a pena. Vale muito a pena”, finaliza.