Quem cuida da saúde do trabalhador em home office?

Home office
(Foto: Ilustração/Pixabay)

Tendência mesmo no pós-pandemia, home office requer cuidados com a saúde e ambiente adequado para o trabalho

Alternativa temporária para os tempos de pandemia de Covid-19, o home office acabou se tornando permanente para muitas empresas e trabalhadores. A redução de custos, a manutenção da produtividade e o desenvolvimento de eficientes ferramentas de teletrabalho fizeram com que, mesmo com praticamente toda a vida voltando ao normal após dois anos de pandemia, o trabalho remoto fosse mantido, não mais como uma medida de prevenção ao contágio pelo coronavírus, mas como uma opção de gestão de muitos negócios. Mas o sistema de trabalho em casa, até então uma exceção, principalmente no mercado formal, requer atenção com a segurança e saúde do trabalhador em muitos aspectos ainda ignorados por empresas, funcionários ou mesmo pela legislação.

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Como separar a vida profissional da pessoal se ambas ocorrem, agora, no mesmo ambiente? Como controlar jornada? Como saber se o funcionário está trabalhando com as condições corretas de ergonomia, luminosidade, ventilação?  Como suprir a ausência do contato interpessoal e a troca de experiências entre os colegas de trabalho? Essas são algumas das questões que a medicina do trabalho precisa buscar respostas neste ano de 2022, considerado o ano da volta à normalidade, mas no tão falado “novo normal”.

“O home office, em muitos casos, veio para ficar, mas, quando veio, não foi planejado, foi de surpresa, as pessoas não estavam preparadas para trabalhar da sua casa. Sempre vivemos com aquele conceito que casa é casa e trabalho é trabalho. Ao se mudar o sistema de trabalho sem muito planejamento e, depois, tornar permanente essa medida temporária, temos efeitos diretos sobre a saúde do trabalhador. O primeiro impacto que observamos foi na saúde mental. Burnout, picos de estresse, depressão, ansiedade, tudo isso teve grande elevação nos diagnósticos de doença do trabalho durante a pandemia. A produtividade pode não ter sido afetada, mas o impacto sobre a saúde do trabalhador é inegável”, afirma o presidente da Associação Paranaense de Medicina do Trabalho (Apamt), Edevar Daniel.

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Debate sobre saúde e segurança do trabalho no home office

Diante deste quadro, a Apamt está priorizando, em 2022, o debate sobre a saúde e segurança do trabalho no home office. “A pandemia está passando e as empresas estão mantendo esse esquema, mas de que forma? Como vai ser? E a segurança no trabalho, ergonomia, equipamentos, mobiliário? Hoje, sequer temos acesso a isso. Não se sabe em que condições o trabalhador está fazendo sua rotina, se numa cadeira adequada, na posição correta, com iluminação correta, com ventilação, fazendo as pausas necessárias. Ficou difícil o controle desses trabalhadores, passou a ser um desafio para o pessoal de saúde e segurança no trabalho. Até a definição do que é acidente de trabalho neste contexto ainda gera debate. É a discussão deste ano de 2022, a partir do momento que as empresas concluírem que, mesmo sem pandemia, o trabalho em casa é o mais adequado para determinadas situações. E, sem dúvida, vai ter que envolver o legislador nesta discussão”, diz, afirmando que a legislação sobre a saúde do trabalhador remoto também não responde essas questões.

Mas se faltam normas para garantir a saúde e a segurança do trabalhador remoto, alguns hábitos e medidas que podem ser adotadas no novo local de trabalho, sua própria casa, ajudam a manter uma rotina saudável e equilibrada, reduzindo os riscos de doenças causadas pelo trabalho.

Confira dicas para manter uma rotina saudável no home office:

Espaço adequado: O espaço em que a pessoa está trabalhando deve ser suficiente, permitindo a ela se afastar do movimento da casa, se isolar em silêncio e ter tranquilidade para trabalhar sem constantes interrupções.

Temperatura e luminosidade: Manter a temperatura do ambiente entre 24º e 26º, de preferência, sem a utilização de ar condicionado. Ter janelas próximas, mantê-las abertas e, frequentemente, abrir a porta para promover a circulação cruzada do ar. A luz solar, pelas janelas, também é a melhor fonte de luminosidade, que deve ser reforçada com lâmpadas e luminárias em ambientes mais escuros ou quando o trabalho se estende além do pôr do sol.

Mobiliário: Nada de trabalhar com o laptop na cama ou no sofá, deitado ou com o equipamento no colo. Mesa e cadeira são indispensáveis no homeoffice. Além de confortável, feita de um material que não cause dores se ficarmos muitas horas sobre ela, a cadeira deve ter altura que quando a gente se senta com a região lombar encostada no fundo, o joelho fique a 90º e os pés apoiados. A tela, sobre a mesa, deve ficar na altura dos olhos, para não forçar a coluna cervical. A altura da mesa deve ser tal que não eleve os ombros na hora em que for usar o teclado ou o mouse. Isso dá automaticamente a altura mais confortável.

Postura: Como as pessoas tendem a ficar sentadas muito tempo, acabam relaxando a postura, forçando a coluna. Uma dica é, a cada hora, levantar-se por alguns minutos e dar uma pequena caminhada.

Distrações: Celular, email, whatsapp, redes sociais, websites devem ser usados como ferramentas de trabalho, se necessários para o desenvolvimento de sua atividade. Uma das principais armadilhas do homeoffice e a dispersão do trabalho a ser realizado por conta de uma informação acessada em momento inoportuno. Navegue, poste, curta, comente, leia sobre temas fora do trabalho, comunique-se com amigos nos momentos de pausa.

Horário: Mas o principal problema do teletrabalho, sem dúvida, é a questão dos horários. Trabalhando em casa, é muito comum que as atividades domésticas, questões familiares e, até, momentos de lazer invadam o horário do “expediente”, assim como é praticamente impossível que estes momentos da vida pessoal sejam interrompidos ou adiados por uma reunião, uma ligação do chefe ou uma extensão da jornada para dar conta de todas as obrigações do dia de trabalho. Assim, o planejamento da rotina é a principal ferramenta para se conciliar o trabalho em casa com a vida pessoal: fixar o horário de expediente, começando e terminando na hora determinada; fugir das distrações durante a jornada; fazer pausas de 15 minutos; respeitar o intervalo das refeições; elencar as prioridades do dia de trabalho e resolve-las em ordem; e, ao encerrar a rotina, desligar o computador e o celular corporativo para só voltar a acessa-los no dia seguinte são os passos iniciais para se ter o equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.

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Outra dica valiosa é, agora que a pandemia está sob controle, criar atividades de lazer fora de casa ao final do expediente para “sair do local de trabalho” assim que encerrá-lo.

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