Conclusão é de levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que aponta maior incidência de doenças dermatológicas como câncer de pele, sífilis e hanseníase
Dados reunidos em um levantamento da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) apontam que os homens são as principais vítimas de câncer de pele no Brasil. No período analisado, entre 2010 e 2019, do total de óbitos decorrentes de complicações dessa doença, 57,5% (20.959) ocorreram na população masculina. Entre as mulheres foram 42,5% (15.517 mortes). Os dados analisados são os fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e pelo Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA/SUS) – ambos do Ministério da Saúde.
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O levantamento revela outra situação preocupante no que se refere à saúde da população masculina: a prevenção ao câncer da pele não tem muita repercussão dentro deste segmento. Um exemplo é o que revelam números de exames realizados na rede pública para diagnóstico do câncer da pele. No período de janeiro de 2012 a abril de 2021, do total de pacientes que fizeram exames para diagnosticar a doença, somente 28% (567.940) eram do sexo masculino, em oposição a 45% (914.090) de mulheres, sendo que em 27% dos exames o sexo não foi informado/exigido no prontuário.
“O câncer da pele é um exemplo dos problemas de saúde no campo da dermatologia que são mais prevalentes entre os homens. Mas há outros, como a sífilis e a hanseníase. Todas essas são doenças com prevalência maior dentro da população masculina. Infelizmente, esse grupo ainda tem resistência em buscar orientação e ajuda nos consultórios médicos”, afirma Heitor de Sá Gonçalves, vice-presidente da SBD.
Carcinoma: o que é e quais os tipos
O crescimento descontrolado das células que compõem a pele provoca o câncer de pele, que tem diferentes tipos. Os mais comuns são os carcinomas basocelulares e os espinocelulares. Porém, mais raro e letal que os carcinomas, o melanoma é o tipo mais agressivo de câncer de pele, devido à alta possibilidade de provocar metástase.
Conforme Heitor Gonçalves, os homens desenvolvem mais chances de desenvolver o câncer da pele por conta de hábitos que o colocam em risco. “O homem sai muito mais de casa para trabalhar e para lazer. Assim, acaba se expondo muito mais ao sol, principalmente na zona rural”, destaca. No entanto, esse não é o único problema de saúde relacionado à assistência dermatológica envolvendo a população masculina.
Sífilis é mais presente entre os homens
Números analisados pela SBD revelam que entre janeiro de 2010 e junho de 2020 um total de 468.759 homens foram diagnosticados com sífilis no Brasil. De acordo com as informações do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, até o ano passado, a quantidade de homens contaminados era quase duas vezes maior do que de mulheres.
Em 2020, do total de casos de sífilis diagnosticados, 62,6% eram na população masculina e 37,4% na feminina. “Essa doença é mais comum no homem, provavelmente, porque são indivíduos que adotam um comportamento de risco do ponto de vista sexual. Isso aumenta a possibilidade de adquirir a infecção pelo treponema, que é o causador da sífilis”, explica Heitor Gonçalves.
Homens também recebem a maioria dos diagnósticos de hanseníase
As bases analisadas pela SBD revelam, ainda, que a população masculina também se destaca nas estatísticas de hanseníase. No Brasil, os homens representam 55% do total de casos novos detectados na última década. Os números são informados pelo Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
O vice-presidente da SBD reitera que “a hanseníase acomete mais o homem no mundo todo. Não há nenhuma diferença imunológica, genética e hormonal que justifique esse fenômeno. Acredita-se que esta alta incidência decorre de fatores como o homem ter que sair mais de casa para trabalhar e sua maior exposição em aglomerações, o que facilita contágio desta doença. Por exemplo, isso ocorre nos meios de transporte urbanos”.
Para prevenção dessas doenças, Gonçalves é enfático em afirmar que a mudança de hábitos é essencial. “Neste sentido, o homem deve evitar comportamento de risco. No campo sexual, deve ter o hábito de usar o preservativo. Quando o assunto é câncer de pele a grande estratégia é usar o filtro solar logo ao acordar, aliado à redução da exposição sol, sobretudo no período de 9h às 15h”.
Demais queixas entre o público masculino
Mas câncer de pele, sífilis e hanseníase não são os únicos problemas dermatológicos que afetam os homens. Os especialistas também citam outros que costumam levar homens aos consultórios. Segundo Fabiane Mulinari Brenner, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD, um dos principais motivos é a necessidade de tratar alopecias.
“Esse quadro se divide em dois tipos: cicatriciais e não cicatriciais. As mais comuns são a androgenética, conhecida popularmente como calvície, e a areata. Além dos eflúvios telógenos, que são períodos temporários de queda e rarefação”, explica a especialista. Ela destacou ainda que há manifestações que têm origem genética, autoimune ou decorrentes de episódios de estresse, por remédios ou outras doenças, como a covid-19. No entanto, afirma Fabiane Brenner, em geral, o tratamento para a alopecia é longo. “Por isso, é importante o paciente ir ao dermatologista, para que o médico o acompanhe”, frisa.
Ela explica ainda que todo paciente, independentemente da alopecia, deve manter cuidados rotineiros para ter cabelos saudáveis. “Entre as medidas, estão: usar xampu adequado ao tipo de cabelo; evitar tratamentos químicos, como alisamento e tintura; cortar o cabelo de forma frequente; desembaraçar os fios no banho e adotar pentes de dentes largos na hora de se arrumar”, diz.
Procedimentos estéticos
Além do tratamento da calvície, as linhas de expressão preocupam o público masculino. Melhorar a qualidade de pele, amenizar a perda de volume facial e remover os pelos também são demandas frequentes em consultórios dermatológicos, relatam os especialistas. Outra dúvida comum é como fazer uma boa hidratação.
“O uso frequente de hidratantes auxilia na manutenção da barreira cutânea íntegra, amenizando o ressecamento da pele. A fotoproteção também não deve ser esquecida pelos homens. O uso diário e contínuo dos filtros solares ajuda a evitar envelhecimento precoce e o câncer da pele”, assinala a coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da SBD, Edileia Bagatin.
Segundo a médica, as alterações relacionadas à idade e à exposição solar incluem a flacidez da pele e o aparecimento de rugas e manchas. De maneira geral, Edileia afirma que tratamentos voltados para o público masculino podem ser associados aos cuidados diários. No entanto, para evitar efeitos adversos e complicações é importante que os procedimentos sejam prescritos por médicos, em especial dermatologistas ou cirurgiões plásticos, após uma avaliação clínica e definição de diagnóstico.