Pós-pandemia pode ter recordes de mortes por doenças crônicas

Mortes por doenças crônicas
(Foto: Ilustração/Pixabay)

Entidades médicas fazem a triste projeção de que 2021 será o ano com recordes de mortes por doenças crônicas, que poderiam ter sido evitadas

Hospitais lotados de pacientes com Covid-19, procedimentos eletivos cancelados, consultas médicas adiadas, tratamentos interrompidos, diagnósticos que poderiam ser precoces sendo retardados. Os problemas de saúde causados pela pandemia do novo coronavírus não devem terminar com a vacinação da população. Entidades médicas fazem a triste projeção de que 2021 será o ano com o maior número de mortes evitáveis por câncer, doenças cardíacas e vasculares e complicações de doenças crônicas como diabetes, que deixaram de ser diagnosticadas neste ano em que as pessoas não foram ao médico por medo da Covid-19 ou por restrições impostas pelo enfrentamento à pandemia.

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Segundo o DataSus, em 2018, as duas principais causas de morte no Brasil foram as doenças do sistema vascular (o que inclui as doenças do coração) e o câncer. A pandemia tem afetado diretamente os pacientes dessas doenças. E os dados são alarmantes. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia Intervencionista, no Brasil, quatorze milhões de pessoas têm doenças crônicas no coração. Porém, nesses meses de pandemia, houve queda de 73% em procedimentos como a angioplastia coronariana, adotada para desobstrução das artérias, o que ameniza o risco de infartos. O adiamento desses procedimentos e de cirurgias eletivas, o medo da contaminação em ambientes hospitalares e a falta de médicos e de leitos, agora, ocupados por pacientes de Covid-19, certamente terão ainda mais impactos negativos num futuro próximo. “O agravamento dessas doenças e o aumento de óbitos em decorrência delas é uma possibilidade real”, alerta a sociedade de especialidade.

Quedas em procedimentos cirúrgicos

Em relação ao câncer, os procedimentos cirúrgicos no Instituto Nacional do Câncer (Inca) registraram queda de 30 a 40%. Já um levantamento feito pelo Instituto Oncoguia, organização de apoio a pessoas com câncer, aponta que 43% dos pacientes consultados relataram que os procedimentos médicos foram cancelados ou adiados. Segundo projeções do Inca, 2020 deve terminar com 50 mil casos de câncer diagnosticados a menos que 2019. Como não há nenhum indicador de diminuição da incidência da doença neste ano, são casos que deixaram de ser diagnosticados neste ano e que poderão ser descobertos tardiamente. A preocupação, nesses casos, é de o paciente perder a janela para o tratamento ou ainda de ver a situação agravada em um nível irreversível pela decorrência do tempo.

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No Hospital Erasto Gaertner, principal referência oncológica no Paraná, antes da pandemia do novo coronavírus, aproximadamente 500 pessoas recebiam, por semana, a notícia de que estavam com a doença. A quantidade caiu para 280 neste ano. No primeiro semestre de 2019, o hospital recebeu 10,3 mil novos pacientes para iniciar o tratamento. No mesmo período deste ano, foram 6,2 mil – 40% a menos.

“Com o advento da pandemia, a procura e a execução de procedimentos chamados eletivos, tanto clínicos como cirúrgicos, sofreu drástica redução (cerca de 70%) especialmente nos meses de abril e maio de 2020. Ocorre que o monitoramento de pacientes com condições crônicas (por exemplo: insuficiências vasculares cardíacas, cerebrais e de outras localizações) e o atendimento a pacientes oncológicos, que tinham seus acompanhamentos realizados periódicos tiveram redução significativa, o que, segundo sociedades da especialidade pode ter chegado a 74%”, comenta o gerente de estratégia e regulação da Unimed Paraná, Marlus Volney de Morais. “Nas doenças oncológicas, o diagnóstico tardio leva a maior avanço da doença e o que tem se observado é que esse diagnóstico tardio implica em maior carga de doença e estágios mais avançados dos tumores”, prossegue.

“Trabalhos publicados por exemplo, na Itália e Inglaterra, também demonstram atraso nos diagnósticos e menor volume de tratamento em outros grupos de doenças como as cardiovasculares, ginecológicas e otorrinolaringológicas. Isso implica em maior morbidade e maior mortalidade nos próximos meses”, destaca o médico.

Hospitais estão preparados

Morais destaca que hospitais, clínicas e consultórios estão preparados para atender a pacientes de todas os tipos respeitando os protocolos de prevenção da Covid-19 e lembra, também, que os atendimentos em telemedicina já estão regulamentados no país, sendo um importante aliado neste momento de pandemia. “É importante ressaltar a importância de termos mecanismos que permitam oferecer, mesmo que a distância (teleassistência) a possibilidade de se fazer investigação adequada e diagnósticos precoces, com monitoramento adequado para as condições que necessitam acompanhamento no tempo certo”, conclui.

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